Um lar para o coração ferido. SNF – 2015.


– VIII tema da Semana Nacional da Família – 2015.



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Atualmente muitos enfrentam situações de sofrimento resultantes da pobreza, das deficiências, das doenças, das drogas, do desemprego e da solidão vivenciada pelos idosos. Além disso, o divórcio e as questões dos indivíduos com atração por pessoas do mesmo sexo impactam a vida das famílias de distintas e intensas formas. As famílias cristãs e os grupos familiares deveriam ser fontes de misericórdia, segurança, amizade e apoio para aqueles que lutam com estas questões.

Ouvir as palavras incisivas de Jesus

  1. Ao cumprimentar a Sagrada Família no Templo, Simeão declara que o menino Jesus é destinado “a ser sinal de contradição” (Lc 2, 34). Os evangelhos provam a verdade destas palavras na reação ao ministério de Jesus por parte dos seus contemporâneos. Jesus ofende, até mesmo, muitos dos seus seguidores.132 Uma razão são as “falas duras” encontrados em suas palavras.
  2. Algumas das palavras mais duras referem-se ao matrimônio, ao desejo sexual e à família. Os ensinamentos de Jesus sobre a indissolubilidade do casamento não só chocam os fariseus, mas também os seus próprios seguidores: “Se a situação do homem com a mulher é assim, é melhor não casar” disseram os discípulos. (Mt 19, 10) No Sermão da montanha, Jesus não só aprofunda os dez mandamentos, mas como o novo Moisés, ele chama os seus seguidores para uma transformação radical dos seus corações: “Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Ora, eu vos digo: todo aquele olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu coração.” (Mt 5, 27-28)
  3. Os discípulos do Senhor formam uma nova família messiânica que transcende e assume prioridade no que concerne às tradicionais relações familiares.133 Para os seguidores de Cristo, a água do batismo é mais densa do que o sangue. A Aliança do Senhor dá um novo contexto para a compreensão de nossos corpos e nossas relações.
  4. A Igreja continua a missão de Cristo no mundo. “Quem vos escuta, a mim escuta”, Jesus afirma aos discípulos, que Ele envia em Seu nome (Lc 10, 16). Os bispos, em comunhão com o Santo Padre, sucedem os apóstolos no seu ministério.134 Portanto, ninguém deve se surpreender sobre o fato de alguns ensinamentos da Igreja também serem percebidos como “falas duras” fora de sintonia com a cultura atual, sobretudo com relação ao casamento, à expressão sexual e à família.

A Igreja é um hospital de campanha

  1. Para entender corretamente o ministério de ensinar da Igreja, também precisamos considerar a sua natureza pastoral. O Papa Francisco uma vez criou o vínculo entre a Igreja e “um hospital de campanha depois de uma batalha.” Ele disse: “É inútil perguntar a uma pessoa seriamente ferida se ela tem colesterol alto e sobre o seu nível de açúcar no sangue! É preciso curar as suas feridas. Então poderemos falar sobre outras coisas. Cure as feridas, cure as feridas….É preciso começar debaixo para cima.”135
  2. A sexualidade é particularmente vulnerável a tais feridas. Homens, mulheres e crianças podem ser feridos pelo comportamento sexual promíscuo (o seu próprio ou de outros), pela pornografia e outras formas de objetificação, estupro, prostituição, tráfico humano, divórcio e o medo do compromisso criado por uma cultura cada vez mais anti-matrimonial.136 Porque a família molda os seus membros tão profundamente – incluindo a “genealogia da pessoa” biológica, social e relacionalmente – relações quebradas dentro da família deixam feridas amargamente dolorosas.137
  3. O Papa nos ajuda a ver as “firmes palavras” da Igreja como palavras que nos curam. Mas devemos nos dedicar a uma sorte de triagem, tratando cada ferida segundo sua gravidade.
  4. Os evangelhos estão cheios de relatos de curas de Jesus. Cristo, o médico, é uma imagem freqüente nas obras de Santo Agostinho. Em uma homilia de Páscoa, escreve: “O Senhor, [assim como] um médico experiente, sabia melhor o que estava acontecendo no homem doente do que ele mesmo. O que os médicos fazem pelas indisposições dos corpos é o que o Senhor também pode fazer pelas indisposições das almas”.138 Com base na parábola do Bom Samaritano, Agostinho vê a Igreja como uma pousada onde o viajante ferido é levado para se recuperar: “Vamos, ferido, suplica o médico, vamos levá-lo para a pousada para ser curado…Por isso, irmãos, a Igreja também, neste tempo no qual o homem ferido é curado, é a pousada do viajante.”139
  5. Na Igreja, a primeira prioridade é levar as pessoas a um encontro com o Médico Divino. Qualquer encontro com Cristo traz cura para a humanidade decaída, e o Espírito Santo sempre pode ser invocado aos nossos corações para permitir penitência e conversão. Nas palavras do Papa Francisco: “Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que ‘da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído’.”140
  6. Quando o Papa Francisco insistiu num encontro pessoal com Jesus, ele reafirmou o trabalho dos seus predecessores. O Papa Bento XVI disse: “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.”141 E o Papa João Paulo II sublinhou que: “para que os homens possam realizar este ‘encontro’ com Cristo, Deus quis a sua Igreja. Ela, de fato, ‘deseja servir esta única finalidade: que cada homem possa encontrar Cristo, a fim de que Cristo possa percorrer juntamente com cada homem o caminho da vida’.”142
  7. A nova evangelização pode ser entendida como levar os feridos do campo de batalha do mundo para conhecer o Médico Divino, e a cura que Ele oferece dentro da comunidade da Igreja. O Papa Francisco vê esta tarefa como o desafio de ser uma “Igreja missionária” ou “uma Igreja em saída.”143

Com paciência e perdão, a Igreja nos ajuda a curar e a crescer

  1. Dentro da Igreja, o poder de cura da graça de Deus é comunicado pelo Espírito Santo. O Espírito Santo faz Jesus presente no culto litúrgico, na leitura orante da Escritura, à luz da tradição sagrada, e no seu ofício de ensinar, que está a serviço de Deus.144 Cristo, o Médico, manifesta-se, particularmente, nos sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos, que são os dois sacramentos da cura.145
  2. A participação na vida sacramental, o desenvolvimento de uma vida de oração, a prática de caridade, a disciplina espiritual, a responsabilidade e o apoio de amigos da Igreja oferecem ao ferido um caminho de conversão para um cristão em recuperação. Mas a conversão não se completa num instante. Continua como um chamado constante para todos os membros da Igreja: “o apelo de Cristo à conversão continua a fazer-se ouvir na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que ‘contém pecadores no seu seio’ e que é, ‘ao mesmo tempo, santa e necessitada de purificação, prosseguindo constantemente no seu esforço de penitência e de renovação’.”146
  3. A natureza progressiva da conversão molda a nossa capacidade de entender e viver os ensinamentos da Igreja. Falando sobre o progresso moral dos cristãos casados, o Papa João Paulo II distinguiu entre “a lei da gradualidade” e “a gradualidade da lei.”147 A “lei da gradualidade” refere-se à natureza progressiva da conversão. Recuperado das feridas do pecado, os cristãos crescem em santidade em todas áreas de suas vidas, incluindo a sua sexualidade. Quando ficam aquém disso, precisam voltar para a misericórdia de Deus, acessível nos sacramentos da Igreja.
  4. A “gradualidade da lei”, por outro lado, é a ideia equivocada de que há “vários graus e várias formas de preceito na lei divina para homens em situações diversas.”148 Por exemplo, alguns argumentam, erroneamente, que os casais que sentem o ensinamento católico sobre a paternidade responsável como um peso deveriam ser incentivados a seguir a sua própria consciência na escolha da contracepção. Esta é uma forma errada de gradualismo. De fato, disfarça uma forma de paternalismo, negando a capacidade de alguns membros da Igreja em responder a plenitude do amor de Deus, e visando “diminuir à força” a moral cristã ensinada a eles.
  5. Em um espírito de verdadeira gradualidade, o Papa Francisco recentemente elogiou a coragem do seu predecessor Paulo VI na sua encíclica Humanae vitae. Ao resistir a uma crescente pressão social para o controle da população, o Papa Francisco disse (sobre Paulo VI) que o seu “gênio foi profético, ele teve a coragem de escolher o lado oposto da maioria, defender a disciplina moral, frear a cultura, e se opor ao neo-malthusianismo, presente e futuro.”149
  6. Mas, ao mesmo tempo, o Papa Francisco observou que Paulo VI disse aos seus confessores para interpretarem a sua encíclica com “muita misericórdia e atenção com as situações concretas… A questão não é mudar a doutrina, porém ir além disso, e certificar-se que o cuida do pastoral leva em conta as situações e o que cada pessoa é capaz de fazer”.150 Portanto, a Igreja chama os seus membros à plenitude da verdade e os encoraja a beneficiar-se da piedade de Deus à medida que crescem em sua capacidade de viver.

O ensinamento católico depende da comunidade católica

  1. Muitos dos ensinos morais de Cristo e, portanto, a ética católica, são exigentes. Mas presumem que os cristãos tenham um espírito de discipulado, uma vida de oração, e o compromisso para o desenvolvimento social e o testemunho cristão econômico. Sobretudo, pressupõem uma vida numa comunidade cristã – ou seja, uma família de outros homens e mulheres que encontram Jesus, e juntos confessam que ele é o Senhor, desejando que a sua graça molde as suas vidas e ajudando uns aos outros a responder o seu chamado.
  2. A Doutrina católica sobre a homossexualidade deve ser entendida sob essa ótica. Os mesmos ensinamentos que convidam as pessoas atraídas pelo mesmo sexo a viverem vidas de castidade em forma de continência, convidam a todos os católicos a abandonar os seus próprios medos, e a evitar a discriminação injusta, a fim de receber os seus irmãos e irmãs homossexuais à comunhão de amor e verdade dentro da Igreja.151 Todos os cristãos são chamados a enfrentar as suas inclinações sexuais desordenadas e a crescer na castidade – ninguém é isento deste chamado – e, conseqüentemente, na sua capacidade de doar e receber amor de uma maneira consoante com o seu estado de vida.152 Porém, a resposta para este apelo à conversão é inevitavelmente uma obra em progresso em nós, pecadores recuperados, que constituímos a Igreja, como membros seus. A chave é criar, dentro da família, da paróquia e da comunidade cristã, um ambiente de apoio mútuo, onde crescimento moral e mudança possam ocorrer.
  3. Parte da urgência em aprovar e outorgar o estatuto legal de casamentos entre pessoas do mesmo sexo e a coabitação de pessoas do sexo oposto provem de um medo compreensível da solidão. Mais e mais na cultura dominante secular, ter um parceiro erótico é percebido como uma clara necessidade, e assim se pensa que o posicionamento da Igreja é cruel, pois estaria condenando homens e mulheres a uma vida de solidão.
  4. Mas se paroquianos comuns entenderem a razão por trás do celibato como uma prática de comunidade, e se mais igrejas domésticas levassem o apostolado da hospitalidade mais a sério, então a antiga doutrina católica sobre a castidade vivida em continência fora do matrimônio talvez parecesse mais plausível aos olhos modernos. Em outras palavras, se as nossas paróquias realmente fossem lugares onde “solteiro” não significasse “solitário,” onde redes estendidas de amigos e famílias realmente compartilhassem a alegria e a tristeza de cada um, então, talvez, algumas das objeções do mundo aos ensinamentos católicos poderiam ser desarmados. Os católicos podem abraçar os apostolados da hospitalidade, não importa o quão hostil ou indiferente a cultura ao entorno possa ser. Ninguém está limitando leigos ou ordenados católicos na amizade que se pode oferecer aos que passam provações.
  5. No seu cuidado pastoral dos divorciados ou novamente casados, a Igreja tem buscado combinar fidelidade ao ensinamento de Jesus sobre a indissolubilidade do matrimônio – que consternou os seus discípulos – com a misericórdia no centro do seu ministério. Considerem, por exemplo, os ensinamentos de Bento XVI sobre a situação pastoral de homens e mulheres divorciados:

Considero grande tarefa duma paróquia, duma comunidade católica, fazer todo o possível para que elas sintam que são amadas, acolhidas, que não estão “fora” […]. Devem ver que mesmo assim vivem plenamente na Igreja. […] Este sofrimento não é só um tormento físico e psíquico, mas também um sofrer na comunidade da Igreja pelos grandes valores da nossa fé. Penso que o seu sofrimento, se realmente aceite interiormente, seja um dom para a Igreja. Devem saber que precisamente assim servem a Igreja, estão no coração da Igreja.153

  1. Em outras palavras, Bento XVI pressupôs a verdade do ensino de Cristo, mas não simplesmente descartou os divorciados que voltaram a se casar, dizendo-lhes para ranger os dentes ou sofrer em solidão. Esse não é o caminho da Igreja, e qualquer católico que age como se fosse assim deveria lembrar que um dos crimes dos fariseus era sobrecarregar os outros com as leis, mesmo sem “levantar um dedo” para ajudar as pessoas com os seus fardos (cf. Mt 23, 4). Em vez disso, Bento XVI recorda o Catecismo da Igreja Católica, que diz que “padres e toda a comunidade devem manifestar uma solicitude atenta” para com os católicos divorciados, para que eles não se sintam excluídos.154
  2. Os laços da amizade fazem suportáveis as exigências do discipulado.155 “Carregando os fardos uns dos outros”,156 dentro da comunidade cristã, possibilita-se que os seus membros caminhem um trajeto de cura e conversão. A caridade fraterna faz a fidelidade possível. Também oferece um testemunho e incentivo para toda a Igreja. O Catecismo da Igreja Católica tem algo parecido em mente quando diz que cônjuges, que perseveram em casamentos difíceis, “merecem a gratidão e o amparo da comunidade eclesial.”157

O mesmo pode ser dito para todos que se encontram em situações familiares desafiantes.

  1. Em uma cultura que vacila entre anonimato por um lado e curiosidade voyeurística “sobre os detalhes das vidas de outras pessoas”, por outro, o Papa Francisco nos chama para acompanhar uns aos outros no obra de crescimento espiritual.158 Ele diz: “um válido acompanhante não transige com os fatalismos nem com a pusilanimidade. Convida sempre a querer curar-se, a pegar no catre (cf. Mt 9, 6), a abraça a cruz, a deixar tudo e partir sem anunciar o Evangelho.”159 Os que são curados são capazes de estender o convite de cura a outros.
  2. A fé cristã e a salvação não são individualistas; são profundamente comunhonal: “A fé tem uma forma necessariamente eclesial, é professada partindo do corpo de Cristo, como comunhão concreta dos crentes. A partir deste lugar eclesial, ela abre o indivíduo cristão a todos os homens. Uma vez escutada, a palavra de Cristo, quando ouvida, pelo seu próprio dinamismo, transforma-se em resposta no cristão, tornando-se ela mesma palavra pronunciada, confissão de fé.”160
  3. Jesus ensinou muitas coisas sobre sexo e casamento que eram difíceis de se viver, tanto nos tempo antigos como hoje em dia. Mas não estamos sozinhos quando enfrentamos estas dificuldades. A vida no Corpo de Cristo é destinada para ser vivida como membros interdependentes, que constroem uns aos outros no amor.161 O ensinamento, os sacramentos e a comunidade da Igreja existem para ajudar no caminho. Com paciência, perdão e confiança, no Corpo de Cristo, juntos podemos curar e viver de tal forma que poderia parecer impossível.

Questões para partilha.

  1. a) A Igreja é um hospital de campanha. Como a Igreja ajuda as pessoas que estão feridas? Como podemos melhorar?
  2. b) Por que os católicos não são individualistas morais? Por que enfatizamos o apoio da comunidade? Como você tem percebido a graça de Deus trabalhando por meio de uma comunidade?
  3. c) Quais são os obstáculos para se criar amizades espirituais na sua cultura? O que a sua paróquia ou diocese pode fazer para encorajar amizades católicas?
  4. d) Qual apoio existe na sua paróquia ou diocese para se fazer progresso na castidade? Existem grupos de apoio ou oportunidades para a educação? Com qual freqüência é oferecido o sacramento da Penitência? Há oportunidades para uma direção espiritual?

VIII. Um lar para o coração ferido   

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Observações Notas Finais do texto:

  1. 132. Cf. Jo 6, 60-66. 133. Mc 3,13-35 e Lc 8,19-21. 134. Cf. CIgC, 77, 85. Cf. Dei Verbum (DV), 7. 135. Papa Francisco, Entrevista Artigo “Um grande coração aberto para Deus” America (Setembro 30, 2013). 136. Cf. CIgC, 2351-56 e FC, 24. 137. Cf. Papa João Paulo II, Carta às famílias Gratissimam Sane (GrS) (1994), 9. 138. Santo Agostinho, Sermões III/6 (184- 229Z), trans. Edmund Hill, O.P., ed. John Rotelle, O.S.A. (New York, 1993), 323. Para outras referências nas quais Agostinho descreve a salvação em termos de cura vejase Serm. 229E (ibid., p. 283); Confissões VII, xx, 26; X, xxx, 42; De doctrina christiana 1, 27; 4, 95; Enchiridion 3.11; 22.81; 23. 92; 32.121; De nuptiis, Bk. 2, 9. III; 38. XXIII. 139. Santo Agostinho, Tractates on the Gospel of John (Tratado sobre o Evangelho de João), 41.13.2. Saint Augustine Tractates on the Gospel of John 28-54, trans. John W. Rettig (Washington: CUA Press, 1993), 148-49. 140. EG, 3 141. DCE, 1. 142. Papa João Paulo II, Encíclica Veritatis splendor (VS) (1993), 7. 143. Cf. EG, 19-24. 144. Cf. DV, 10. 145. CIgC, 1421. 146. CIgC, 1428. 147. Cf. FC, 34. O amor é a nossa missão (Portuguese).indd 125 1/6/15 10:37 AM O AMOR É A NOSSA MISSÃO 126 148. FC, 34. 149. Francisco X. Rocca, “Pope, in interview, suggests church could tolerate some civil unions” (Papa, em entrevista, sugere que a Igreja poderia tolerar algumas uniões civis) Catholic News Service, Março 5, 2014. 150. Francisco X. Rocca, “Pope, in interview, suggests church could tolerate some civil unions” (Papa, em entrevista, sugere que a Igreja poderia tolerar algumas uniões civis) Catholic News Service, Março 5, 2014. 151. Cf. CIgC, 2358-59. 152. Cf. CIgC, 2337, 2348. 153. Papa Bento XVI, Discurso “Festa dos testemunhos”, Milão (2 de junho de 2012). 154. CIgC, 1651. 155. Cf. DCE, 1. 156. Cf. Gl 6, 2. Veja-se acima n. 88. 157. CIgC, 1648. 158. Cf. EG, 169-173. 159. EG, 172. 160. LF, 22. 161. Cf. 1Cor 12, 26-27 e CIgC, 521, 953.

Encontro de Casais com Cristo_ECC Semana_da_Familia
Estatuto_destruição_da_Familia Familia_projeto_de_Deus Espiritualidade_Cristã_familia

MÃE, MESTRA, FAMÍLIA: A NATUREZA E O PAPEL DA IGREJA. SNF – 2015.


– IV tema da Semana Nacional da Família – 2015.



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A Igreja possui suas instâncias institucionais, pois deve atuar no mundo. Contudo esse aspecto não contempla toda a sua essência. A Igreja é a Esposa de Cristo, ela não é algo neutro. Nas palavras de São João XXIII, Ela é nossa mãe e mestra, nosso conforto e guia, nossa família de fé. Mesmo quando seus membros e líderes pecam, ainda precisamos da sabedoria da Igreja, dos sacramentos, do apoio e da proclamação da verdade, pois ela é o próprio Corpo de Jesus no mundo; a família do povo de Deus em larga escala. A Igreja é nossa mãe; nós somos seus filhos e filhas

  1. A Igreja é a Jerusalém celeste,“a Jerusalém do alto […] é a nossa mãe.” (162) (Gl 4, 26) A Igreja é a “mãe do nosso novo nascimento”.163 A Igreja, como noiva virginal de Cristo, faz nascer filhos e filhas que vão “nascer do alto […] nascer da água e do Espírito” (Jo 3, 3, 5). 175. O que significa “nascer do alto”? Quer dizer que não possuímos identidade terrena após o batismo? Não, mas quer dizer que “das fontes batismais nasce o único povo de Deus da Nova Aliança, que ultrapassa todos os limites naturais ou humanos das nações, das culturas, das raças e dos sexos: “Por isso é que todos nós fomos batizados num só Espírito, para formarmos um só corpo.” (164) Significa que como filhos e filhas da Igreja, temos uma nova identidade que não destrói, mas transcende todas as maneiras que os seres humanos, naturalmente, constroem suas identidades.
  2. Como membros da Igreja, somos membros de “um só corpo” que não é definido por nenhuma classificação humana, tal como idade, nacionalidade, inteligência ou qualquer feito humano tal como eficiência, organização ou virtude moral. Se a Igreja fosse definida por qualquer uma dessas qualidades humanas, não teríamos renascido “do alto”, mas somente da Terra, de nós mesmos e de nossas capacidades limitadas. Não importa quão inteligente ou virtuoso sejamos, isso não é nada comparado ao amor perfeito de Cristo e de sua esposa, a Jerusalém do alto, nossa mãe, a Igreja. Ao tornarmo-nos seu filho ou filha, recebemos um dom, uma nova identidade em Cristo, que, por nossos méritos, não podemos nos conceder.

Como e por que a Igreja é santa

  1. Quando dizemos que a Igreja é “imaculada” não ignoramos o fato de que todos os seus membros são pecadores, pois a Igreja é “santa e sempre necessitada de purificação”.165 Sua santidade é a santidade de Cristo, seu esposo. É o amor de Cristo, o esposo, que cria inicialmente a Igreja: “Mas a Igreja nasceu principalmente do dom total de Cristo pela nossa salvação, antecipado na instituição da Eucaristia e realizado na cruz. […] Assim como Eva foi formada do costado de Adão adormecido, assim a Igreja nasceu do coração trespassado de Cristo, morto na cruz.” (166)
  2. Podemos dizer que a “constituição” da Igreja não é uma virtude, santificação ou feito que tenhamos obtido, mas o dom total de Cristo. Quando nascemos da Igreja como mãe, nascemos do amor de Cristo. Esse amor dá à Igreja identidade, não como uma nação, agremiação ou clube humanamente constituído entre pares, mas como a “noiva”, a “esposa”, que é “uma só carne”, e um só corpo, com Cristo.
  3. Esse amor pelo qual nascemos em Cristo é um amor que não podemos dar a nós mesmos. Uma vez recebido, é purificador, de modo que a Igreja, na pessoa de cada um dos filhos e filhas, sempre é transformada no amor de Cristo até que Cristo se forme plenamente em todos. Esse é o sentido da imagem da Igreja peregrina, uma Igreja “a caminho” rumo à perfeição última, perfeição no, e pelo, próprio amor que acima de tudo a define.
  4. Até que isso se realize, a Igreja verá que a peregrinação é exercitar “continuamente a penitência e a renovação”, (167) e que não pode e não pretenderá perfeição exceto naquilo que é seu dote, o sangue de Cristo, ou seja, seu amor.

Quando os católicos pecam, a santidade não é suprimida da Igreja

  1. O fundamento da Igreja em Cristo significa que o pecado na Igreja, mesmo o pecado nos sacerdotes ordenados, não pode invalidar a identidade da Igreja ou sua santidade porque a identidade da Igreja não provém de nenhum de nós. Deriva de Cristo. No Antigo Testamento, o povo de Deus, Israel, era definido por sua aliança com Deus e nenhuma porção de pecado por sua parte poderia invalidar tal “eleição” ou a identidade que essa aliança concedeu-lhes como povo de Deus. Onde quer que fossem, Deus não os abandonava. Quem quer que os encontrasse, sempre encontrava o povo de Deus, não importando quão pecadores fossem quaisquer dos membros.
  2. A fidelidade da Aliança de Deus também se aplica à Igreja. O milagre da Igreja é que o amor de Deus que a define não pode ser suprimido por pecado algum de seus membros. É uma sociedade visível no mundo, mas que não é definida por nada que seja “deste mundo”. Eis o que é tão belo na Igreja. Não temos de esperar pela criação da sociedade de doze perfeitos para que declaremos que nossa Igreja é digna de crédito. Não depositamos nossas esperanças em virtudes ou perfeições humanas, mas acreditamos em Jesus Cristo, que morreu por nós e por seu sangue nos tornou “gente escolhida, o sacerdócio régio, a nação santa, o povo que ele adquiriu, a fim de que proclameis os grandes feitos daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1Pd 2, 9). A autoridade magisterial e a responsabilidade da Igreja
  3. A Igreja, como mãe, nos comunica uma nova identidade no amor e na santidade em que ela mesma foi formada, tendo também a responsabilidade de nos ensinar e formar, de modo ainda mais perfeito, na nova identidade que recebemos, não do mundo, mas do alto. Não há autoridade secular que possa destituí-la dessa função, porque a identidade que a Igreja recebe e, posteriormente, concede, não vem dos feitos deste mundo, como vimos, mas ela os transcende e aperfeiçoa. Antes, “o múnus pastoral do Magistério está, assim, ordenado a velar para que o povo de Deus permaneça na verdade que liberta.” (168)
  4. A autoridade magisterial da Igreja serve à totalidade do povo de Deus por preservar intacta a verdade do Evangelho, juntamente com todos os ensinamentos morais revelados no Evangelho, que implícita ou explicitamente, sustentam a liberdade humana. Isso inclui verdades tais como a dignidade da pessoa humana, a bondade da criação, a nobreza do estado matrimonial e sua orientação intrínseca para uma comunhão de amor capaz de gerar vida. Essas verdades não podem ser anuladas pelos pecados cometidos contra a dignidade que proclamam. Antes, esses pecados levam a Igreja a proclamar tais verdades mais fielmente, mesmo quando busca renovação nessas mesmas verdades e no amor do qual derivam.

Como os casais unidos em matrimônio e as famílias dão testemunho da Igreja

  1. Cônjuges cristãos têm um papel-chave na proclamação dessas verdades, de modo que o mundo crê mais persuasivamente, através das vidas que são continuamente transformadas pelo amor que é participado aos casais no sacramento do Matrimônio e define tal comunhão como marido e mulher. O Papa Francisco descreveu de maneira tocante o testemunho da verdade que os esposos cristãos podem oferecer, com o apoio das graças do sacramento do Matrimônio:
    • Os esposos cristãos não são ingênuos, conhecem os problemas e os perigos da vida. Mas não têm medo de assumir a própria responsabilidade, diante de Deus e da sociedade. Sem fugir nem isolar-se, sem renunciar à missão de formar uma família e trazer ao mundo filhos. – Mas hoje, Padre, é difícil… Sem dúvida que é difícil! Por isso, é preciso a graça, a graça que nos dá o sacramento! Os sacramentos não servem para decorar a vida – mas que lindo matrimônio, que linda cerimônia, que linda festa!… Mas aquilo não é o sacramento, aquela não é a graça do sacramento. Aquela é uma decoração! E a graça não é para decorar a vida, é para nos fazer fortes na vida, para nos fazer corajosos, para podermos seguir em frente! Sem nos isolarmos, sempre juntos. Os cristãos casam-se sacramentalmente, porque estão cientes de precisarem do sacramento! (169)
  2. Ambos os papas, São João Paulo II e Bento XVI, tiveram a oportunidade de citar um trecho da exortação apostólica Evangelii nuntiandi: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, […] ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (170). O papa Francisco convoca o casal cristão a ser a espécie de mestre que as pessoas do mundo de hoje ouvirão, mestres que ensinem pelo testemunho e, portanto, sustentem a verdade e revelem essa capacidade de persuasão na abertura para uma nova vida, no calor do amor mútuo e na prontidão à hospitalidade, como oásis de amor e misericórdia numa cultura tantas vezes marcada pelo cinismo, pela dureza de coração e pelo desânimo.
  3. O testemunho dos esposos cristãos pode trazer luz a um mundo que valoriza eficiência às pessoas, e o “ter” ao “ser”, e, assim, esquece completamente os valores da “pessoa” e do “ser”. Que aqueles que são unidos pelo matrimônio em Cristo possam ser testemunhas fiéis do seu amor e se tornem mestres da verdade que, sempre e em todo o lugar, é intrinsecamente atrativa.
  4. A Igreja é uma instituição, mas é sempre mais que uma instituição. É mãe, esposa, corpo, família e aliança. Todos os batizados são seus filhos e filhas, o que confere aos cristãos a mais fundamental e autêntica das identidades. Assim como nosso pecado nunca apaga nossa conformidade à imagem de Deus e nossa condição de membros da família divina. Quando os católicos pecam, isso não suprime a santidade da Igreja. A essência da Igreja baseia-se em Jesus Cristo, um fundamento que nos chama à responsabilidade, mas que também é mais profundo e mais seguro que qualquer falha ou sucesso humanos. Apesar das muitas insuficiências, a Igreja não pode esquivar-se da responsabilidade de pregar o Evangelho e, assim, levar adiante sua missão de amor.

Questões para partilha.

  1. a) Como a Aliança de Deus nos protege, mesmo quando pecamos?
  2. b) Todos pecam, até os líderes católicos. Por que, afinal, dizemos que a Igreja é santa?
  3. c) O que Jesus quer que façamos quando a Igreja deixa de viver conforme sua vontade?
  4. d) Por que Jesus ama a Igreja? O que na Igreja lhe agrada? O que lhe causa desapontamento?

 IX. Mãe, mestra, família: a natureza e o papel da Igreja

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Observações Notas Finais do texto:

162. Cf. CIgC, 757. 163. CIgC, 169. 164. CIgC, 1267, citando 1Cor 12, 13. 165. LG, 8 e CIgC, 827. 166. CIgC, 766. 167. LG, 8 e CIgC, 827. 168. CIgC, 890. 169. Papa Francisco, Discurso “às famílias em peregrinação por ocasião do ano da fé”, Cidade do Vaticano (26 de outubro de 2013). 170. EN, 41

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Luz num mundo de trevas. – SNF – 2015.


– VII tema da Semana Nacional da Família – 2015.



Lanterna_de_luz



Em seu ápice, a família é uma escola de amor, justiça, compaixão, perdão, respeito mútuo, paciência e humildade em meio a um mundo encoberto pelo egoísmo e o conflito. Neste sentido, as famílias ensinam o que significa ser humano. Contudo, são muitas as tentações que surgem procurando nos induzir a esquecer que o homem e a mulher foram criados para a aliança e a comunhão. A pobreza, a ostentação da riqueza, a pornografia, a contracepção, além dos erros de natureza filosófica e intelectual são exemplos de elementos que podem suscitar contextos de desafio ou ameaça para a vida saudável da família. A Igreja resiste a tudo isso em nome da proteção da família.

Os efeitos da queda original.

  1. Somos criaturas falhas. Nem sempre amamos como deveríamos. Mas se reconhecermos e nomearmos nossos pecados, podemos nos arrepender deles.
  2. Pode-se verificar a marca de nossa natureza enfraquecida pelo pecado em nossas ações cotidianas: em nosso coração dividido, bem como nos obstáculos à virtude, tão corriqueiros no mundo. O “regime do pecado” “faz-se sentir nas relações entre o homem e a mulher. Sua união sempre foi ameaçada pela discórdia, por um espírito de domina- ção, pela infidelidade, pelo ciúme e por conflitos que podem chegar ao ódio e à ruptura. Essa desordem pode manifestar-se de maneira mais ou menos grave e pode ser mais ou menos superada, segundo as culturas, as épocas e os indivíduos. Tais dificuldades, no entanto, parecem ter um caráter universal”.(108)
  3. O documento preparatório para o Sínodo Extraordinário dos Bispos de 2014, sobre os “Desafios Pastorais da Família no Contexto da Evangelização”, menciona uma vasta gama de questões globais:
  • Entre as numerosas novas situações que exigem a atenção e o compromisso pastoral da Igreja, será suficiente recordar: os matrimônios mistos ou interreligiosos; a família monoparental; a poligamia; os matrimônios combinados, com a conseqüente problemática do dote, por vezes entendido como preço de compra da mulher; o sistema das castas; a cultura do não comprometimento e da presumível instabilidade do vínculo; as formas de feminismo hostis à Igreja; os fenômenos migratórios e reformulação da própria idéia de família; o pluralismo relativista na noção de matrimônio; a influência dos meios de comunicação sobre a cultura popular na compreensão do matrimônio e da vida familiar; as tendências de pensamento subjacentes a propostas legislativas que desvalorizam a permanência e a fidelidade do pacto matrimonial; o difundir-se do fenômeno das mães de substituição (“barriga de aluguel”); e as novas interpretações dos direitos humanos. (109)

Questões econômicas e contextos

  1. A pobreza e as dificuldades econômicas debilitam o matrimônio e a vida familiar em todo o mundo. Certo dia, na Oração do Ângelus, o Santo Padre, apontando para um grande cartaz no meio da multidão disse:
  • Leio ali, escrito grande: “Os pobres não podem esperar”. É bonito! E isto faz-me pensar que Jesus nasceu numa manjedoura, não nasceu numa casa. Depois teve que fugir, ir ao Egito para salvar a vida. Por fim, voltou para a própria casa, em Nazaré.
  • E penso hoje, também lendo aquela escrita, nas numerosas famílias sem casa, quer porque nunca a possuíram, quer porque a perderam por vários motivos. Família e casa caminham juntas. É muito difícil levar em frente uma família sem morar numa casa… Convido a todos — pessoas, entidades sociais, autoridades — a fazer todo o possível para que cada família possa ter uma casa. (110)
  1. Ao mesmo tempo, dados das ciências sociais mostram que os casamentos estáveis e as famílias auxiliam na superação da pobreza, da mesma forma que a pobreza age contra os casamentos estáveis e as famílias. Os casamentos bem alicerçados e as famílias geram esperança, e a esperança conduz a propósitos e a realizações. Esses dados sugerem o modo como a fé cristã vigorosa possui conseqüências práticas e espirituais. Uma das razões pelas quais a Igreja dá grande atenção às circunstâncias econômicas em nossas vidas, bem como as de ordem espiritual, é auxiliar as famílias a quebrarem círculos viciosos e transformá-los em círculos virtuosos.
  2. A última encíclica do Papa Bento XVI, Caritas in veritate, insiste na “forte ligação entre a ética da vida e a ética social”. (111) O Papa Bento observou que “a família tem necessidade da casa, do emprego, ou do justo reconhecimento da atividade doméstica dos pais, da escola para os filhos, de assistência sanitária básica para todos”. (112) Jesus preocupase com a pessoa integral. Ele mesmo conheceu a pobreza e veio de uma família que viveu como refugiada.113 Ele agora convoca sua Igreja para se levantar em solidariedade às famílias em situações semelhantes.(114)
  3. Em outras palavras, se dizemos que nos preocupamos com a família, precisamos cuidar dos pobres. Se cuidarmos dos pobres estaremos servindo à família.
  4. A atual economia global, hipercapitalista, também prejudica a classe média e os ricos. A cultura de massa, por exemplo, mercantiliza o sexo. O marketing corporativo cria um apetite insaciável por novas experiências, um clima de contínuo perambular e insatisfeito desejo. A vida nas culturas do mercado moderno torna-se uma luta contra a cacofonia da alienação, do barulho, dos insaciáveis desejos, elementos estes que rompem a estabilidade da família e alimentam um sentimento de permissão. A vida numa perpétua situação de mercado pode nos fazer pensar que, se desejamos alguma coisa, se se está de acordo com isso e se há condições financeiras para tanto, então temos direito a ter. Esse sentimento de permissão é uma ilusão destrutiva, um tipo de escravidão aos apetites que enfraquece nossa liberdade para uma vida virtuosa. Nosso fracasso em acolher os limites, nossa insistência obstinada em satisfazer nossos impulsos abastece muitos problemas espirituais e materiais no mundo contemporâneo.

Por que a pornografia e a masturbação são moralmente erradas

  1. O mercantilismo do sexo sempre comporta o mercantilismo das pessoas. A pornografia – freqüentemente ligada e alimentada pela crueldade do tráfico humano – tornou-se pandêmica, e não somente entre os homens, mas também em número ascendente entre as mulheres. Esta lucrativa indústria global pode invadir qualquer lar que tenha um computador ou TV a cabo. A pornografia catequiza seus consumidores para verem as outras pessoas como objetos para a satisfação de seus apetites.
  2. Para todos nós, é realmente difícil a tarefa de aprender a paciência, a generosidade, a tolerância, a grandeza e outros aspectos do amor cruciforme. A pornografia torna a doação de nós mesmos aos outros e à aliança divina ainda mais penosa, até mesmo para o usuário casual. A masturbação é moralmente errônea por razões análogas. Quando um indivíduo “curte” ou justifica o uso da pornografia e da masturbação, ele ou ela suprime a capacidade de abnegação, de uma sexualidade madura e a intimidade genuína com o cônjuge. Não é de se espantar que a pornografia ocupe um papel preponderante na ruptura de muitos casamentos na atualidade. A pornografia e a masturbação também podem agredir a vocação dos celibatários precisamente pelo dado ilusoriamente privado dessas práticas.

Por que o uso dos contraceptivos é moralmente errado?

  1. De certa forma, os contraceptivos também nos levam a considerar o desejo sexual como uma prerrogativa para o uso. Permitem os usuários tratar o desejo pela intimidade sexual como autojustificante. Separando a procriação da comunhão, os contraceptivos obscurecem e, finalmente, prejudicam as razões do matrimônio.
  2. Os casais que evitam ter filhos devem fazê-lo com boas intenções. Muitos casais experimentam e acreditam que o sexo com o uso de contraceptivos é essencial para manter os laços do matrimônio, ou que esta modalidade seja inofensiva, pois não haveria vítimas. Muitos casais estão tão acostumados aos contraceptivos que o ensinamento da Igreja pode parecer retrógrado.
  3. Mas se um casal procura verdadeiramente a liberdade interior, o dom mútuo de si mesmo, e o amor sacrificial a que a aliança de Deus chama-nos, então é difícil imaginar em que sentido os contraceptivos seriam necessários e essenciais. A Igreja acredita que a insistência para o uso dos contraceptivos tem como origem vários mitos sobre o matrimônio que não são verdadeiros. Como o Papa Pio XII explicou:
  • Há aqueles que alegariam que a felicidade no casamento está em proporção direta ao gozo recíproco nas relações conjugais. Não é bem assim. De fato, a felicidade no casamento está em proporção direta ao respeito mútuo dos cônjuges, mesmo em sua vida íntima. (115)
  1. Em outras palavras, ao pensar nos contraceptivos como necessários ou úteis estabelece-se uma premissa errada. Em seu fundamento, um matrimônio feliz – o matrimônio que persiste durante a vida – tem mais em comum com a força generosa e paciente do celibato do que O amor é a nossa missão com o chamado pelo Papa Pio XII de “hedonismo refinado”. (116) Recentemente, o Papa Francisco referiu-se à Sagrada Família enfatizando as qualidades da generosidade e da liberdade interior que facilitam e possibilitam um bom matrimônio:
  • José era um homem que ouvia sempre a voz de Deus, profundamente sensível ao seu desejo secreto, um homem atento às mensagens que lhe chegavam do fundo do coração e das alturas. Não se obstinou em perseguir aquele seu projeto de vida, não permitiu que o rancor lhe envenenasse a alma, mas esteve pronto para se pôr à disposição da novidade que, de forma desconcertante, lhe se apresentava. Era um homem bom. Não odiava. E assim, José tornou-se ainda mais livre e grande. Aceitando-se segundo o desígnio do Senhor, José encontra-se plenamente a si mesmo, para além de si. Esta sua liberdade de renunciar ao que é seu, à posse da sua própria existência, e esta sua plena disponibilidade interior à vontade de Deus, nos interpelam e nos mostram o caminho. (117)
  1. Os contraceptivos obscurecem a liberdade e a força interior. À medida que os desejos sexuais são tratados como prerrogativas ou desejos que não podem ficar sem satisfação imediata, manifesta-se a necessidade de se crescer na liberdade interior. Como uma “solução técnica” ao que é um problema moral, os contraceptivos escondem “a questão fundamental, que diz respeito ao sentido da sexualidade humana e à necessidade de um controle responsável, para que o seu exercício possa tornar-se expressão de amor pessoal.” (118)

Os benefícios do planejamento natural da família.

  1. Com certeza a “paternidade responsável” inclui o discernimento sobre quando ter filhos. Sérias razões, emergindo das “condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais”, podem levar os cônjuges a decidirem não ter filhos por algum tempo definido ou indefinido. (119)
  2. Maridos e esposas católicos que se encontram nesta situação precisam de mestres, conselheiros e amigos que possam preparar e apoiar o casal no planejamento natural da família (PNF). Paróquias e dioceses devem fazer deste apoio uma prioridade pastoral e de fácil acesso. É realmente mais provável que o casal exerça o ensinamento católico se houver uma direção espiritual, instrução prática e amigos solidários. Leigos, padres e bispos, todos têm responsabilidade de criar estas condições facilitadoras.
  3. Se um casal, com corações generosos, e depois de um período de oração e reflexão verdadeira, discernir que não seja o tempo na vida conjugal em que Deus os chama para ter mais filhos, então, por vezes, o planejamento natural da família poderá requerer deles a abstenção das relações sexuais. Praticando assim o PNF, o casal subordina ou oferece os desejos sexuais imediatos ao sentido maior da vocação de Deus na vida do casal. Esta subordinação da vontade e do desejo é uma das várias maneiras em que o PNF e os contraceptivos são tão diferentes um do outro: objetivamente e experiencialmente. O PNF é uma forma intima e exigente, e, desta forma, potencialmente linda e intensa de seguir o Senhor no matrimônio.
  4. O PNF é estabelecido sobre a beleza e a necessidade da intimidade sexual conjugal. Por depender da abstinência ocasional para espaçar os nascimentos de filhos, o PNF convoca os casais à comunicação e ao autodomínio. Como o vínculo matrimonial, o PNF modela e disciplina o desejo sexual. A ideia própria da monogamia pressupõe que a humanidade caída pode disciplinar os desejos perambulantes e aprender a tratar um esposo com generosidade e fidelidade. Desta maneira, a abstinência periódica, requerida pelo PNF, ajuda a aprofundar e desenvolver um compromisso que as pessoas casadas já fizeram. Embora o PNF não garanta um matrimônio feliz, nem isente o casal dos sofrimentos normais do matrimônio, este é uma tentativa de construir uma casa sobre a rocha e não sobre a areia.

Os contraceptivos ampliam a confusão sobre as questões do matrimônio

  1. Como a Igreja predisse há quase 50 anos, os contraceptivos não só arruínam os matrimônios, mas também possuem outros efeitos colaterais.120 O acesso extremamente fácil dos contraceptivos induz a que poucas pessoas tenham o hábito da abstinência e o do autodomínio sexual. Desta forma, os contraceptivos fizeram o celibato muito menos plausível para a sociedade moderna e, desta forma também fizeram com que o matrimônio e outros tipos de românticos casais parecessem virtualmente impossíveis. Quando isso acontece, toda a vida social de uma comunidade é distorcida. E, à medida que os contraceptivos diminuem a plausibilidade do celibato, contribuem à escassez de sacerdotes e religiosos jovens. Os contraceptivos também fazem o sexo fora do matrimônio (tanto o pré-matrimonial quanto o extramatrimonial) parecer superficialmente mais plausíveis, como se a intimidade sexual pudesse existir sem conseqüências. E, certamente, muitos dos mesmos argumentos pelo sexo sem abertura à procriação, que procuram justificar os contraceptivos, também se aplicam a justificar o aborto permissivo – ainda mais horrendo e brutal.
  2. Separando assim o sexo e a procriação, os contraceptivos encorajam uma cultura que supõe o matrimônio como um companheirismo emocional e erótico. Esta perspectiva reducionista e desordenada alimenta a confusão atual sobre a verdadeira natureza do matrimônio, tornando o divórcio mais corriqueiro e comum, como se o matrimônio fosse um contrato que pudesse ser quebrado e renegociado. Recentemente escreveu o Papa Francisco:
  • A família atravessa uma crise cultural profunda, como todas as comunidades e vínculos sociais. […] O matrimônio tende a ser visto como mera forma de gratificação afetiva, que se pode constituir de qualquer maneira e modificar-se de acordo com a sensibilidade de cada um. Mas a contribuição indispensável do matrimônio à sociedade supera o nível da afetividade e o das O amor é a nossa missão necessidades ocasionais do casal. Como ensinam os Bispos franceses, não provém do sentimento amoroso, efêmero por definição, mas da profundidade do compromisso assumido pelos esposos que aceitam entrar numa união de vida total. (121)

Por que a Igreja não apóia o denominado matrimônio entre pessoas do mesmo sexo?

  1. A orientação do matrimônio como satisfação erótica ou emocional, a qual é um movimento facilitado pela separação entre sexo e procriação, corroborou a hipótese das uniões entre pessoas do mesmo sexo. Em alguns países, atualmente, há articulações que visam redefinir o matrimônio como sendo qualquer relação de caráter sexual ou afetivo estabelecida entre dois adultos. Esta revisada visão do matrimônio tem se firmado onde o divórcio e os contraceptivos constituem uma prática estabelecida. Desta forma, a redefinição do matrimônio para incluir os do mesmo sexo surge, logo em seguida, como algo válido.
  2. Com respeito à hipótese do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, como já bem se sabe, a Igreja se recusa a dar sua bênção ou sancioná-lo. Não se trata de um fechamento ou falta de reconhecimento da intensidade do amor e das amizades entre pessoas do mesmo sexo. Como deve estar claro neste ponto desta catequese, a Igreja Católica sustenta que todos são chamados a doar e receber amor. Amizades do mesmo sexo comprometidas, sacrificiais e castas devem ser apreciadas e estimadas. Visto que os católicos têm um compromisso ao amor, à hospitalidade, à interdependência e à atitude de “carregar os fardos uns dos outros” (122), a Igreja, em todos os níveis, quer apoiar e fomentar as oportunidades de amizade casta, sempre procurando a solidariedade para com aqueles que, por qualquer razão, não podem se casar.
  3. A verdadeira amizade é uma vocação antiga e honrável. São Aelred de Rievaulx observou que o desejo por um amigo nasce do âmago da alma. (123) Amigos verdadeiros produzem um “fruto” e uma “suavidade”, enquanto ajudam um ao outro a dar uma resposta a Deus e a viver o Evangelho. (124) Quer se desenvolva entre pessoas do mesmo sexo ou do oposto, a amizade representa um grande benefício para todos e conduz à comunhão espiritual.” (125)
  4. Como provavelmente já deve ter ficado claro, quando os católicos falam de matrimônio, referem-se a algo distinto das outras relações de amor particularmente intensas, mesmo se esse amor é profundo, resiste penosamente e por um longo período. Uma intimidade afetiva intensa de longo prazo não é o suficiente para o matrimônio. O matrimônio, como de fato foi universalmente reconhecido até muito recentemente no Ocidente, é estabelecido nos deveres que emergem das possibilidades e desafios apresentados pelo potencial de procriação dado pela anatomia sexual diferenciada dos homens e das mulheres.
  5. A Igreja convida os homens e as mulheres a verem em sua sexualidade a possibilidade de uma vocação. Alcançar a maturidade enquanto homem e mulher significa assumir determinadas questões para si: Como Deus me chama a integrar minha sexualidade em Seu plano para a minha vida? Criados à imagem de Deus, nosso destino é sempre a comunhão, o sacrifício, o serviço e o amor. A pergunta para todos nós é como doar os aspectos sexuais das nossas vidas no matrimônio ou na comunhão vivida através do celibato. Em nenhum dos casos, o nosso desejo erótico ou romântico é soberano ou autônomo. Seremos chamados inevitavelmente a fazermos sacrifícios que não escolheríamos se escrevêssemos os nossos próprios roteiros de vida.

O contexto filosófico, legal e político do matrimônio na contemporaneidade

  1. Os debates sobre a redefinição do matrimônio, inclusive as questões do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, levantam questões legais e políticas. Na teoria política e na teologia, os católicos falam da família como uma instituição pré-política.126 Em outras palavras, a família é legalmente “anterior” à sociedade civil, à comunidade e ao Estado político, já que a família é “fundada diretamente na natureza”. (127) A sociedade não inventou nem fundou a família; ao contrário, a família é a fundação da sociedade: “A família – na qual se congregam as diferentes gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida social – constitui, assim, o fundamento da sociedade.” (128) Assim as autoridades públicas possuem a obrigação de proteger e servir à família.
  2. Até recentemente, esta perspectiva da família era também amplamente aceitada pelos não católicos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, de 1948 insiste que “a família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado.” (129) Contudo, haja vista que mais jurisdições repensam o matrimônio como uma questão de preferência individual, subtraindo qualquer conexão orgânica à diferença sexual e à procriação, e promovendo uma perspectiva contratual daquele, esse consenso desaparece. Atualmente, o Estado pretende cada vez mais inventar o matrimônio e redefini-lo segundo seu querer. (130) Supostamente, a família já não constrói a sociedade e o Estado, ao contrário, o Estado agora presume supervisionar e autorizar a família.
  3. Alguns legisladores pretendem então codificar esta inversão filosófica em novas leis matrimoniais. No lugar de acolher o matrimônio como uma instituição fundada na natureza, a nova perspectiva considera o matrimônio infinitamente plástico, subordinado e maleável à vontade política. Em prol da proteção das famílias, dos matrimônios e das crianças, a Igreja não tem outra opção a não ser resistir a este revisionismo.
  4. Uma sociedade que acredita erroneamente ser o matrimônio sempre renegociável, percebido somente a partir de um acordo humano autorreferencial, verá o matrimônio unicamente como um contrato, como um acordo voluntário entre duas pessoas com direitos individuas. Mas estes meros contratos não são iguais ao matrimônio fundado sobre uma aliança de misericórdia. A lógica de tais contratos não é a lógica paulina de Efésios 5, em que o esposo e a esposa se amam ao modo da cruz. O raciocínio que subjaz estes contratos defectivos se opõe ao dom do matrimônio como sacramento da aliança.
  5. A Igreja é obrigada a resistir à propagação de falsas lógicas para o matrimônio. O Papa Francisco assim observou:
  • Em repetidas ocasiões, ela (a Igreja) serviu de medianeira na solução de problemas que afetam a paz, a concórdia, o meio ambiente, a defesa da vida, os direitos humanos e civis, etc. E como é grande a contribuição das escolas e das universidades católicas no mundo inteiro! E é muito bom que assim seja. Mas, quando levantamos outras questões que suscitam menor acolhimento público, custa-nos a demonstrar que o fazemos por fidelidade às mesmas convicções sobre a dignidade da pessoa humana e do bem comum. (131)
  1. Como dissemos ao início desta catequese, todos os ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio, a família e a sexualidade têm sua fonte em Jesus. A teologia moral católica é uma narrativa coerente capaz de satisfazer os questionamentos humanos mais profundos. Uma narrativa singular e unificante proveniente das convicções cristãs fundamentais sobre a criação divina e a aliança, sobre a queda original da humanidade e sobre a encarnação de Cristo, sua vida, crucifixão e ressurreição. Estes ensinamentos envolvem sacrifícios e sofrimentos para todos os que desejam ser discípulos de Jesus, porém eles também proporcionam novas oportunidades para a beleza e o florescer humano.
  2. Quando a verdadeira natureza do matrimônio é debilitada ou compreendida de forma irrisória, a família torna-se enfraquecida. Quando a família está enfraquecida, todos nós tendemos a certo tipo de individualismo brutal. Perdemos de forma muito fácil o hábito da suavidade de Cristo e a disciplina de sua aliança. Quando a família está fortalecida – quando cria espaço para os esposos, esposas e seus filhos para realizar a arte da doação aos moldes da aliança divina – então a luz entra num mundo de trevas. Nesta luz, a verdadeira natureza da família pode ser vista. E é por isso que a Igreja resiste às sombras que ameaçam a família. 146. Todos nós experimentamos a queda. A desordem em cada coração humano possui um contexto e conseqüências sociais. A comunhão para a qual fomos criados é ameaçada por nossos desejos desregrados, por nossa situação financeira, pela pornografia, pela contracepção, pelo divórcio e por confusões legais ou intelectuais. Mas o amor é a nossa missão, e a Igreja procura uma alternativa para a vida social, uma comunidade cuja diretriz é a misericórdia de Jesus, sua generosidade, liberdade e fidelidade. Os diversos ministérios da Igreja promovem a cultura da vida, a ajuda aos pobres, o apoio ao planejamento natural da família e a articulação de uma filosofia do direito mais coerente. Quando os católicos resistem ao divórcio, ao casamento de pessoas do mesmo sexo ou às revisões indistintas do direito matrimonial, estes também assumem a responsabilidade de fomentar comunidades de amparo e amor.

Questões para partilha.

  1. a) Explique as conexões entre o cuidado da Igreja pelos pobres e seu ensinamento sobre sexo e castidade.
  2. b) Qual é a diferença entre contracepção e planejamento natural da família?
  3. c) Qual o denominador comum entre divórcio, contracepção e casamento entre pessoas do mesmo sexo?
  4. d) Quais desafios à castidade existem em sua comunidade, e aonde as pessoas de sua paróquia podem ir para aprender sobre a perspectiva da Igreja? Como sua paróquia pode apoiar as pessoas que querem viver de acordo com os ensinamentos da Igreja?

VII. Luz num mundo de trevas   

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Fonte em PDF: http://www.worldmeeting2015.org/

Observações Notas Finais do texto:

108. CIgC, 1606. 109. Sínodo dos Bispos, Assembleia Geral Extraordinária, Documento Preparatório: “Desafios Pastorais da família no contexto da evangelização”, Cidade do Vaticano (2013). 110. Papa Francisco, Angelus, Cidade do Vaticano (22 de dezembro, 2013). 111. Papa Bento XVI, Encíclica Caritas in veritate (CV) (2009), 15. 112. Papa Bento XVI, Messagem “Para a Celebração do Dia Mundial da Paz” (1 de janeiro de 2008). 113. Cf. Mt 2, 13-23. 114. Papa Francisco, “Papa fala sobre a Sagrada Família enquanto refugiados e reza pelo Sínodo,” (29 de dezembro, 2013). 115. Papa Pio XII, “Alocução às parteiras” (29 de outubro de 1951). 116. Papa Pio XII, “Alocução às parteiras” (29 de outubro de 1951). 117. Papa Francisco, Angelus, Cidade do Vaticano (22 de dezembro de 2013). O amor é a nossa missão (Portuguese).indd 124 1/6/15 10:37 AM n o Ta s f I n a I s 125 118. Papa Bento XVI, Mensagem do Papa Bento XVI ao congresso internacional no 40º aniversário da “Humanae vitae” de Paulo VI (2 de outubro de 2008). 119. Cf. HV, 10 e CIgC, 2368. 120. Cf. HV, 17. 121. EG, 66. 122. Veja-se acima n. 88. 123. Santo Aelred de Rievaulx, De Spirituali Amicitia, 1: 51. 124. Santo Aelred de Rievaulx, De Spirituali Amicitia, 1: 45-46. 125. CIgC, 2347. Veja-se acima, 102. 126. CDSI, 21 127. Papa Leão XIII, Encíclica Rerum novarum (RN) (1891), 13 128. GS, 52 129. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 16. 130. Cf. EG, 66 131. EG, 65.

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Todo amor dá fruto. – SNF – 2015.


– VI tema da Semana Nacional da Família – 2015.



Todo_amor_da_fruto



Nem todos são chamados ao matrimônio. Mas toda vida é destinada a ser fecunda. Toda vida tem o poder e a necessidade de nutrir nova vida –se não for por meio da geração e criação de filhos, então por outros meios vitais de doação, realização de obras e de serviços. A Igreja é uma família com diferentes vocações, cada uma distinta, mas cada uma necessita das outras e se apoiam mutuamente. O sacerdócio, a vida religiosa e a vocação do celibato laical enriquecem e são enriquecidos pelo testemunho do estado matrimonial. As diferentes maneiras de ser casto ou celibatário fora do matrimônio são formas de doar a vida ao serviço de Deus e da comunidade humana.

  1. Dois sacramentos da Igreja são os únicos dedicados “à salvação dos outros.” A Ordem e o Matrimônio “conferem uma graça especial para uma missão particular na Igreja em ordem à edificação do povo de Deus”. (91)
  2. Em outras palavras, nem todos homens e mulheres precisam ser pais biológicos para irradiar o amor de Deus ou para fazer parte da “família de famílias” que conhecemos como sendo Igreja. A vocação para o sacerdócio, ou voto de vida religiosa, tem a sua própria integridade e honra. A Igreja sempre precisa de padres e religiosos, e os pais devem ajudar todos os seus filhos e filhas a estar atentos à possibilidade de que Deus possa estar chamando-os para oferecer a sua vida dessa forma.
  3. Além disso, há muitos leigos celibatários que têm o seu próprio papel insubstituível na Igreja. A Igreja conhece muitas distintas maneiras de se viver o celibato, mas todas são, de uma forma ou outra, um chamado para servir a Igreja e fomentar a comunhão de modo a serem análogas à paternidade.
  4. O celibato autêntico – seja leigo, ordenado ou consagrado – é orientado para a vida social e comunitária. Ser um “pai espiritual” ou “mãe espiritual” – talvez como membro do clero ou religioso, mas também como padrinho, um parente adotado, ou um catequista ou professor, ou simplesmente como mentor e amigo – é uma vocação estimada, algo essencial para uma comunidade cristã saudável e próspera.
  5. São João Paulo II uma vez refletiu sobre as qualidades maternas de Madre Teresa, e, por extensão, sobre a fecundidade e a fertilidade espirituais da vida celibatária em geral:
    • É muito habitual chamar “madre” a uma religiosa. Mas em Madre Teresa este apelativo assumiu uma intensidade especial. Uma mãe conhece-se pela capacidade de se dar. Observar Madre Teresa no trato, nas atitudes, no modo de ser, ajudava a compreender o que significava para ela, além da dimensão puramente física, ser mãe; ajudava-a a chegar à raiz espiritual da maternidade. Sabemos bem qual era o seu segredo:  ela estava cheia de Cristo e, por isso, olhava para todos com os olhos e o coração de Cristo. Tinha tomado a sério a sua palavra “Tive fome e destes-me de comer…” (Mt  25, 35) Por isso, não se cansava de “adotar” como filhos os seus pobres. O seu amor era concreto, empreendedor; levava-a onde poucos tinham coragem de chegar, onde a miséria era tão grande que provocava medo. Não me admira que os homens do nosso tempo sejam atraídos e fascinados por ela. Pois encarnou aquele amor que Jesus indicou como distintivo para os seus discípulos:  “Assim, todos saberão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13, 35). (92)

    Vidas radiantes como a da Beata Teresa de Calcutá e São João Paulo II mostram que o celibato nas suas diversas variações pode ser uma maneira interessante, um belo caminho de vida. A lógica e as possibilidades do celibato

  6. Anteriormente nesta catequese, citando Santo Agostinho, vimos que a proposta de ter filhos não era apenas continuar a espécie ou construir uma sociedade civil, porém, cumular a cidade celestial com a alegria de uma nova vida. Esta distinção – entre a meta natural de procriação e a vocação teológica para se preparar para o Reino de Deus em plena realização – permite a Igreja fazer mais uma afirmação: para cumprir o seu destino como homens e mulheres, todas pessoas podem ser fecundas, mas nem todos precisam se casar.
  7. A Igreja oferece o casamento como uma vocação, uma possibilidade; por isso não pode ser uma lei ou um requisito para uma realizada vida católica. (93) Segue-se, então, que o celibato precisa existir na vida social da Igreja para que o casamento seja uma questão de liberdade em vez de impulso. Se existe de fato mais de uma maneira de ordenar a própria vida sexual, a masculinidade ou a feminilidade em relação à vida eterna, o celibato é esta alternativa. “A família é a vocação que Deus inscreveu na natureza do homem e da mulher, mas existe outra vocação complementar ao matrimônio: o chamamento ao celibato e à virgindade pelo Reino dos céus. Foi a vocação que o próprio Jesus viveu.”(94)
  8. Celibato e casamento não competem um com o outro. Mais uma vez, como Santo Ambrósio ensinou: “nós não louvamos nenhum para a exclusão dos outros… Isto é o que faz a riqueza da disciplina da Igreja”. (95) Celibato e matrimônio são vocações complementares, pois ambos proclamam que a intimidade sexual não pode ser testada. (96) Tanto celibatários como pessoas casadas respeitam a estrutura do amor da aliança e evitam o “teste” ou a intimidade condicional. (97) Tanto o celibato como o casamento rejeitam o sexo no contexto chamado pelo Papa Francisco de “cultura do descartável.” (98) Tanto o celibato como o casamento rejeitam relações sexuais condicionadas meramente na satisfação de desejos eróticos.
  9. Observar a disciplina do celibato ou a do casamento são dois caminhos para homens e mulheres estarem em solidariedade um com o outro e evitarem servir só aos desejos sexuais. Celibato e casamento são as únicas duas maneiras de vida que convergem com a conclusão de que o casamento é a forma plenamente humana para atos da procriação, à luz da imagem de Deus que habita em nós e molda as nossas vidas. O celibato – que não só inclui padres e religiosos consagrados, porém todos que são castos fora do matrimônio – é o modo de vida de pessoas que não são casadas, mas que honram com as alianças.
  10. Tudo o que a Igreja tem ensinado sobre ser criado para a felicidade, sobre ser criado à imagem de Deus, sobre precisar amar e ser amado serve tanto para as pessoas celibatárias quanto para as que são casadas. O celibato pode ser confirmado e permanente, como no caso da vida religiosa consagrada, ou no caso de alguém incapaz de se casar por causa de deficiência ou outra circunstância, ou pode ser só potencialmente permanente, como no caso de uma pessoa jovem discernindo sua vocação. Em todos estes casos, o celibatário segue os passos de Jesus, amadurecendo, oferecendo o seu “eu” a Deus, confiando no seu plano e construindo uma vida baseada no amor para com os outros com piedade, paciência generosidade e serviço.
  11. Em qualquer sociedade, muitos serão marginalizados se o casamento é visto como obrigatório, como se fosse preciso ter um parceiro romântico para ser completo. O celibato na Igreja rebela-se contra esta idéia enganosa. Por exemplo, viúvas muitas vezes são deixadas de lado em sociedades tradicionais, e pessoas solteiras em sociedades modernas freqüentemente socializam-se em clubes, pubs e bares onde a promiscuidade é comum. Criar espaço alternativo, onde as pessoas que não são casados possam experimentar a felicidade e ter uma missão, é uma significativa hospitalidade, algo que cristãos precisam empreender uns para com os outros como forma de libertação e acolhimento.
  12. Algumas pessoas querem se casar, mas não conseguem achar um cônjuge, devido a circunstâncias alheias à sua vontade. Uma vida de esperança e espera não significa abandono a uma existência estéril. Quando se vive em prontidão ativa à vontade de Deus ao modo como esta vontade se desenvolve na história pessoal de cada um, fazendo do “faça-se” de Maria o seu próprio, bênçãos poderão advir. (99) Assim como todos são chamados a dar e receber amor, como o amor cristão é voltado para fora, o celibato é uma prática de comunhão. Quando nos amamos uns aos outros castamente fora do casamento, o fruto é a amizade: “A  virtude da castidade expande-se na  amizade […]. A castidade exprime-se especialmente na amizade para com o próximo. Desenvolvida entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes, a amizade representa um grande bem para todos. Conduz à comunhão espiritual.” (100)
  13. Celibatários – e de forma limitada, mas análoga, os casais inférteis – também desfrutam de uma liberdade única, uma liberdade atrativa para certos tipos de serviço, amizade e comunidade. Celibatários e sem filhos são relativamente mais disponíveis para a experiência casta na vida em comunidade, para carreiras que exigem flexibilidade, para oração e contemplação. Os celibatários, casais sem filhos, pessoas idosas, mesmo saudáveis (talvez com filhos adultos) têm benefícios relacionados ao tempo que muitos pais normalmente não têm. Essas pessoas podem se dedicar ao trabalho catequético e a outros ministérios paroquiais, e até apostolados e testemunhar em situações perigosas o que seria impossível para famílias com filhos. Os solteiros ou os casais sem filhos desfrutam de uma disposição que lhes dá mais discrição e criatividade com relação às possibilidades de hospitalidade e amizade. Quando São Paulo aconselha o celibato, pensa estar propondo uma possibilidade que tem os seus desafios, mas também tem os seus benefícios e liberdades: “Se, porém, casares, não estarás pecando. E, se a virgem se casar, não peca. Mas as pessoas casadas terão as tribulações da vida matrimonial, e eu gostaria de poupar-vos isso. Eu gostaria que estivésseis livres de preocupações. Gostaria de vê-los livres de preocupações.” (1Cor 7, 28 e 32a) A aliança espiritual e social entre celibato e casamento
  14. O Catecismo da Igreja Católica diz que “todos os fiéis de Cristo são chamados a viver uma vida casta de acordo com seus estados particulares de vida. No momento do seu Batismo, o cristão se compromete a viver a sua vida afetiva em castidade”. (101) O celibato, portanto, é aliado ao casamento, fazendo semelhante oferecimento interno de si mesmo ao Senhor. Tanto pessoas celibatárias como casadas comprometem a sua vida por meio da aliança com Deus de acordo com as suas respectivas vocações. Existem diferenças práticas na vocação de cada indivíduo particular, mas o movimento interno da alma, o próprio oferecimento do coração, é semelhante em seu núcleo. Celibatários e cônjuges maduros estão familiarizados, de modo sábio, com muitas das mesmas habilidades espirituais.
  15. No caso do casamento, quando esposos e esposas se doam um ao outro, com um amor que imita Jesus, o dom mútuo de si mesmo é parte da obra de Cristo, se unindo ao mesmo espírito de doação do próprio Jesus à Igreja. Quando os cônjuges trocam os seus juramentos na Igreja, na sua liturgia de casamento, Cristo recebe o seu amor nupcial e faz com que seja parte do seu próprio dom eucarístico de si para a Igreja e para o Pai que, glorificado com o sacrifício do Filho, concede o Espírito Santo aos cônjuges para selar a sua união. (102) A nupcial fecundidade, assim, é antes de tudo o dom e a tarefa do vínculo sacramental. É exatamente por isso que São João Paulo II disse, de modo belo, que o vínculo nupcial que aos cônjuges foi dado para desfrutar e viver faz deles “a lembrança permanente para a Igreja do que aconteceu na Cruz; são para eles mesmos e para os filhos testemunhas da salvação da qual o sacramento os faz participar”. (103)
  16. No caso de celibato, um raciocínio semelhante é possível. O amor de Cristo é continente porque faz dele mesmo uma doação total; uma afirmação incondicional do outro “o que o homem poderá dar em troca da sua vida?” (Mt 16, 26) O amor de Cristo é expresso no seu desejo de compartilhar tudo de si com os seus discípulos (cf. Lc 22, 15), para dar-se totalmente a eles e trazer a todos de volta ao Pai e compartilhar a própria glória de Deus. (104) O amor matrimonial é a lógica da aliança que define o modo como procriamos; amor celibatário é a lógica da aliança vitalizada na comunidade inteira.
  17. Como casamento e celibato são vocações complementares para adultos católicos, deveríamos criar os nossos jovens para perceber que um parceiro romântico não é essencial para a felicidade humana. Se o casamento em si toma forma de aliança de Jesus conosco, e se esta aliança também cria a possibilidade, então a vida de jovens que não são casados é melhor compreendida, não em termos de namoro ou relacionamentos esporádicos, mas como um tempo de discernimento e cultivo de amizades. Os hábitos e habilidades de verdadeira amizade são básicos para a vida, tanto no casamento como em comunidades celibatárias. A questão sobre a vocação que adolescentes e outros jovens enfrentam hoje em dia precisa envolver mais do que preferência romântica. Os jovens precisam adquirir certas habilidades internas espirituais, independentemente do que sua vida futura lhes reserva.
  18. Por esta razão, as paróquias deveriam prestar muita atenção à dimensão social da castidade e do celibato. O celibato impõe desafios únicos, e, como o Catecismo da Igreja Católica observa, aprender o autodomínio sexual implica um aspecto cultural: somos pessoas independentes, e viver a castidade pode tanto ser facilitado como impedido pela nossa situação social. (105) As possibilidades de vida que os jovens pensam ser imagináveis dependem dos exemplos que veem e das histórias que ouvem.
  19. Como o celibato é tão “contracultura”, existe ainda o risco de que, mesmo nas paróquias, não seja completamente entendido. Pessoas solteiras “merecem, portanto, a estima e a solicitude atenta da Igreja, particularmente dos pastores.” (106) Não só os pastores, mas também a família e as pessoas solteiras deveriam dar passos concretos para garantir que “solteiro”, no contexto católico, claramente não é o mesmo que solitário ou isolado. Pessoas solteiras precisam de comunhão para compartilhar os seus fardos e tristezas, bem como a responsabilidade e a oportunidade de serviço. “Mas a todas é necessário abrir as portas dos lares, ‘igrejas domésticas’, e da grande família que é a Igreja devem estar abertas” para os não casados.” (107)
  20. Esta visão sugere uma necessidade para todos examinarem como se contribui para a atmosfera e a essência da vida paroquial. Se os pais desencorajam os filhos ao sacerdócio, à vida religiosa consagrada, ou a outras vocações celibatárias, então a comunidade inteira deveria examinar a sua consciência. O celibato autêntico sempre é ricamente social, e se o celibatário é visto como unicamente solitário ou alienado, então algo na prática ou na estrutura da vida da comunidade está errado. Os celibatários devem tomar iniciativas para servir e envolver-se, e as famílias devem tomar medidas para ser hospitaleiras, para adotar “tias” e “tios” e para ser inclusivos na construção de famílias ampliadas ou comunidades intencionais.
  21. Uma rica vida social faz todo tipo de celibato mais plausível para o mundo, porque enfraquece a crítica do celibato que diz que semelhante vida é inevitavelmente solitária. Para assumir esta visão, para superar a inércia dos hábitos sociais que segregam solteiros e negligenciam as oportunidades do celibato, exige-se um compromisso criativo, tanto por parte de leigos como do clero. Jesus é o nosso Senhor, e o Senhor diz que “através deste testemunho todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros.” (Jo 13, 35). O amor deve visivelmente animar a vida paroquial para todos.
  22. O Celibato não é estéril, nem é “solteiro” no sentido de isolado ou autônomo. Na Igreja, todos somos interdependentes, criados para a comunhão, criados para dar e receber amor. Esta visão da vida humana gera inesgotável variedade de vocações criativas. O celibato possui exigências únicas para aqueles que o adotam, mas celibatários também têm privilégios e oportunidades únicas. Celibatários respeitam o potencial sexual ou biológico do casamento, e agem a partir de uma semelhante lógica e doação espiritual. Os celibatários e casais casados precisam um do outro para sustentar e crescer a “ família de famílias” que é chamada Igreja.

Questões para partilha

  1. a) O que o celibato e o casamento têm em comum?
  2. b) Quais são alguns dos desafios e fardos que pessoas solteiras enfrentam na sua comunidade? Como podem amigos, famílias e paró- quias as ajudar? Quais são alguns dos benefícios do celibato? Como as pessoas solteiras podem servir à comunidade?
  3. c) As crianças na sua paróquia chegam a conhecer uma variedade de padres, monges, freiras, e outras irmãs religiosas? Pode pensar em maneiras de introduzir exemplos de celibato na sua comunidade? Você tem encorajado crianças que você conhece para ser padre ou religioso consagrado? Por que sim ou por que não?
  4. d) Que boas razões para se escolher o casamento ou o celibato? Quais são as razões desfavoráveis? Como uma pessoa deve discernir a sua vocação?

  1. VI. Todo amor dá fruto  

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Fonte em PDF: http://www.worldmeeting2015.org/

Observações Notas Finais do texto:

  1. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIgC) (2005), 321. 92. Papa João Paulo II, Discurso “Encontro das famílias adotivas organizado pelas Missionárias da Caridade” (5 de setembro de 2000) 93. Cf. 1Cor 7,25-40. 94. Papa Francisco, Discurso “Encontro com os jovens da Região da Úmbria” Assis (4 de outubro de 2013). 95. CIgC, 2349, citando St. Ambrósio, De viduis 4.23 96. Cf. CIgC, 1646. Veja-se acima n. 58. 97. Cf. CIgC, 2391. Veja-se acima n. 58. 98. Veja-se acima n. 60. 99. Cf. Lc 1, 38. 100. CIgC, 2347. 101. CIgC, 2348. 102. CIgC, 1624. 103. FC, 13 104. Cf. Jo 1,14; 17, 24. 105. CIgC, 2344. 106. CIgC, 1658. 107. CIgC, 1658.

Encontro de Casais com Cristo_ECC Semana_da_Familia
Estatuto_destruição_da_Familia Familia_projeto_de_Deus Espiritualidade_Cristã_familia

Criando o Futuro. SNF – 2015.


– V tema da Semana Nacional da Família – 2015.



Homenagem_mães_presentepravoce2



O casamento deve ser fecundo e aberto às novas vidas. As crianças modelam o futuro, da mesma forma que elas mesmas são formadas em suas famílias. Sem as crianças não pode haver o futuro. Crianças criadas com amor e orientação são a base para um futuro de amor. Crianças feridas prenunciam um futuro ferido. As famílias constituem o fundamento para todas as outras formas de comunidade. As famílias são igrejas domésticas, lugares no quais os pais auxiliam os filhos a descobrirem que Deus os ama e tem um plano para a vida de cada um.

O casamento fornece o contexto espiritual para as possibilidades criadas pela biologia

  1. O casamento inclui amor, lealdade e compromisso. Mas assim é o caso de muitas outras relações dignas. O casamento é algo distinto. O casamento é a aliança construída no poder de procriação do homem e da mulher. A nossa biologia coloca certas limitações e possibilidades, e o casamento é uma resposta para viver esta situação em santidade.
  2. Trataremos a outra resposta ao chamado de Deus – o celibato – no próximo capítulo. No capítulo sete, refletiremos sobre os desafios à ideia de fecundidade no casamento, desafios que surgem das questões do casamento fechado à concepção e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nesta seção, precisamos discutir como o amor conjugal integra a fecundidade de homens e mulheres com o sacramento da aliança de Deus.
  3. O casamento é uma resposta à possibilidade da procriação entre homens e mulheres. Quando um homem e uma mulher se casam, dando o passo adicional de livremente consentir em promessas de mútua fidelidade e permanência, (61) o casamento coloca a procriação no contexto da dignidade humana e da liberdade. As promessas matrimoniais são análogas à aliança de Deus com Israel e a Igreja. O casamento, como a Igreja ensina, é “o pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio íntimo de toda a vida, ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à procriação e educa- ção da prole, entre os batizados foi elevado por Cristo nosso Senhor à dignidade de sacramento.” (62) Em síntese, o casamento é uma comunidade de vida e de amor.(63)
  4. O sacramento do Matrimônio torna fiel a força da aliança de Deus, bem como a sua comunhão trina com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, disponível ao esposo e à esposa. Este fundamento espiritual dá uma nova e mais profunda razão à fecundidade biológica, porque se abrir à geração de filhos é uma extensão da generosidade divina. Desse modo, podemos ver como os clássicos “três bens do casamento” (filhos, fidelidade e sacramento), segundo Santo Agostinho, são enraizados no plano divino. (64)

A vocação espiritual da paternidade

  1. Como acontece com qualquer questão vocacional, a questão de saber se e quando ter filhos não é algo a ser decidido simplesmente de acordo com critérios humanos autorreferencias. Existem reais e legítimas condições humanas “físicas, econômicas, psicológicas e sociais”, que esposos e esposas deveriam considerar no seu discernimento. (65) Mas, ao final, a questão sobre se tornar pais repousa sobre a mesma justificativa que o próprio matrimônio sacramental: amor na forma de serviço, sacrifício, confiança e abertura à generosidade de Deus. O casamento católico tem como perspectiva os sacramentos e o apoio da comunidade cristã e, assim, quando cônjuges católicos consideram a possibilidade de se tornarem pais continuam no mesmo contexto espiritual e comunitário.
  2. Quando cônjuges tornam-se pais, a dinâmica interna da criação de Deus e o sacramento do Matrimônio aparecem de forma bonita e particularmente clara. Quando o casal têm filhos de acordo com o padrão de amor que Cristo tem para conosco, o mesmo amor também orienta os novos pais na educação e na formação espiritual dos seus filhos.66 “Estas crianças são elos de uma corrente”, disse o Papa Francisco quando recentemente batizou 32 bebês. “Vocês, pais, apresentam hoje seus filhos para serem batizados. Amanhã, serão eles a apresentarem seus filhos ou netos. Eis a corrente da fé!” (67)
  3. Esta corrente de filhos e pais estende-se por milênios. Duas vezes ao dia, – e ainda hoje – orações judaicas começam com a antiga Sh´ma (Shema), uma oração encontrada em Deuteronômio:

Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa ou andando a caminho, quando te deitares ou te levantares. (68)

  1. Repetimos: Tu as repetirás com insistência a teus filhos. No coração deste mandamento, esta responsabilidade fundamental, está a reafirmação cotidiana entre Deus e Israel. Os pais devem incentivar e guiar os seus filhos na sua relação comunitária com Deus. Assim o Deuteronômio diz: ensine e compartilhe as glórias de Deus com as suas crianças. Jesus diz o mesmo aos seus discípulos: deixem-nos vir a mim (cf. Mt 19, 14). Tanto o Deuteronômio quanto Jesus estão falando para nós. Ambos estão dizendo: Certifiquem-se de que as crianças sob sua responsabilidade tenham uma relação com Deus e com o povo de Deus. Ensinem às crianças a orar e contemplar o Senhor. Motivem isso cotidianamente na sua casa, e não criem obstáculos para isso.
  2. Esta vocação confere um propósito à paternidade dos pais católicos. O mesmo amor que preenche homens e mulheres, ensinando-lhes o caminho da aliança e trazendo-os ao sacramento do Matrimônio, faz com que um casal se torne uma família. (69) Um esposo e uma esposa tornam-se pai e mãe: “Desta união origina-se a família, na qual nascem novos cidadãos da sociedade humana, os quais, para perpetuar o Povo de Deus através dos tempos, se tornam filhos de Deus pela graça do Espírito Santo, no Batismo”. (70) Cristãos não só têm filhos para continuar a espécie e construir a sociedade, mas para que toda a família possa ser formada para a comunhão dos santos. De acordo com as palavras de Santo Agostinho, o amor sexual entre homem e mulher “é a sementeira, por assim dizer, de uma cidade”, (71) e ele tem em mente não só a cidade terrena ou a sociedade civil, mas também a cidade celestial, onde a Igreja chegará à plenitude.

A vida na Igreja doméstica

  1. O Vaticano II chamou a família de “igreja doméstica,” uma Ecclesia domestica:

Na família, como numa igreja doméstica, devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a vocação sagrada. (72)

A natureza vocacional da vida familiar requer viver com atenção. “Cada homem é chamado a desenvolver-se, porque toda a vida é vocação.” (73) Mas, construir um matrimônio, discernir uma vocação não “vem do nada.”(74) Os hábitos de discernimento podem ser ensinados e cultivados. É responsabilidade de um pai e de uma mãe estar com as crianças em casa e na Igreja e rezar regularmente. Não vão aprender como fazê-lo, se não são ensinados. Os pais podem buscar ajuda de padrinhos, avós, professores, clérigos e religiosos para cumprir com as suas responsabilidades e para que os filhos também possam crescer e aprender sobre a oração. O Papa Francisco, um jesuíta com anos de formação na arte do discernimento, descreve como a oração e a vocação caminham juntas: “É importante ter uma relação cotidiana com Ele [Deus], ouvi-lo em silêncio diante do Tabernáculo e no íntimo de nós mesmos, falar-lhe, receber os sacramentos. Manter esta relação familiar com o Senhor é como deixar aberta a janela da nossa vida, a fim de que Ele nos faça ouvir a sua voz, o que Ele deseja de nós”.(75)

  1. Praticar e ensinar o discernimento à família implica paciência e oração, um desejo constante para purificar motivos, para confessar e fazer penitência, para ser paciente no lento trabalho de crescer na virtude, para abrir a sua imaginação para as Escrituras e o testemunho da Igreja, e para entender a sua vida interior. Aprender a discernir para nós mesmos e transmiti-lo às nossas crianças implica humildade, uma abertura a críticas construtivas e diálogo sobre como Deus pode estar influenciando a nossa vida. Uma abordagem vocacional para a vida implica uma disposição em ser honesto sobre os nossos próprios desejos, mas, sobretudo, oferecer a nossa vida a Deus, ser aberto para as aventuras e novos planos que possam se apresentar quando dizemos “ não seja feito como eu quero, mas como tu queres.” (76) (Mt 26, 39; cf. 26, 42) Santa Teresa de Lisieux rezou desta maneira quando era criança, dizendo: “Meu Deus, eu escolho tudo. Eu não quero ser uma santa pela metade. Eu não tenho medo de sofrer por Vós. Eu só temo uma coisa: fazer a minha vontade própria. Então recebei-a, porque eu escolho tudo que Vós quiserdes.” (77)
  2. Especialmente quando uma família tem muitos filhos, os pais enfrentam uma ampla gama de tensões. Paternidade é exigente. Não obstante, se a meta da vida familiar cristã é abrir as janelas da casa à graça de Deus na vida cotidiana, então mesmo em meio à fadiga e ao caos doméstico, os pais podem manter-se abertos ao Espírito. Ninguém quer sobrecarregar os pais. Porém, “amor de Deus […]não se deve exercitar apenas nas coisas grandes, mas, antes de mais, nas circunstâncias ordinárias da vida.”(78) Na vulnerabilidade de tais momentos, os pais podem entender o que São Paulo pretendia quando disse: “pois quando sou fraco, então é que sou forte.” (2Cor 12, 10)
  3. A paternidade tem um modo de esvaziar pretextos; de fazer-nos ver que não somos autossuficientes, mas que precisamos da ajuda e força de Deus, família, paróquia e amigos. A maneira como uma família responde à adversidade e à doença, ou reúne para as refeições e devoções, ou toma decisões financeiras estabelecendo prioridades, ou a forma como faz escolhas sobre o lazer, o trabalho ou a carreira dos pais, a formação acadêmica dos filhos, e mesmo sobre os horários para dormir. Esses e muitos outros aspectos da “economia doméstica” formam as imaginações e horizontes das crianças. Rotinas internas podem ser espaços privilegiados onde a luz do Espírito penetra, onde uma atitude de gentileza e hospitalidade cristã fermenta toda vida.

O nosso contexto cultural requer que as famílias tenham discernimento.

  1. Papa Francisco expressa muitas destas idéias de uma maneira prática:

Penso que todos nós podemos melhorar um pouco neste aspecto, tornando-nos todos mais ouvintes da Palavra de Deus, para sermos menos ricos com as nossas palavras e mais ricos com as suas Palavras. […] Penso no pai e na mãe, que são os primeiros educadores: como podem educar, se a sua consciência não for iluminada pela Palavra de Deus, se o seu modo de pensar e de agir não se deixar orientar pela Palavra; que exemplo podem dar aos seus filhos? Isto é importante, porque depois o pai e a mãe queixam-se: “Este filho…”. Mas tu, que testemunho lhe ofereceste? Como lhe falaste? Da Palavra de Deus, ou da palavra do noticiário televisivo? O pai e a mãe devem falar da Palavra de Deus! E penso nos catequistas, em todos os educadores: se o seu coração não for aquecido pela Palavra, como podem sensibilizar os corações dos outros, das crianças, dos jovens e dos adultos? Não é suficiente ler as Sagradas Escrituras, mas é preciso ouvir Jesus que fala através delas: é precisamente Jesus quem fala nas Escrituras, é Jesus quem fala nelas. […] Interroguemo-nos […] que lugar ocupa a Palavra de Deus na minha existência, na vida de todos os dias? Estou sintonizado com Deus, ou com tantas palavras da moda ou ainda comigo mesmo? Uma pergunta que cada um de nós deve formular. (79)

  1. O Papa se referiu aos noticiários da TV, aos quais não deveríamos dar tanta atenção, ao levantar questões sobre as grandes mídias, incluindo as redes sociais da internet e outras formas de cultura popular. Relacionar-se com estas formas de cultura não é algo que deveria acontecer de modo automático; relacionar-se com estas formas de cultura de maneira construtiva também requer discernimento. O Catecismo da Igreja Católica, ao tratar da igreja doméstica, observa que o mundo de hoje “frequentemente é estranho e até hostil à fé.”80 Numa cultura fragmentada, o ambiente social e das mídias podem comprometer a autoridade dos pais em geral, e a paternidade católica em particular. Pais e filhos devem refletir sobre a maneira da sua família estar no mundo, sem pertencer ao mundo.(81)
  2. Quando qualquer um de nós – mas especialmente as crianças – encontra a cultura, nossas imaginações e ambições são moldadas. Em grande medida, todos nós – mas especialmente as crianças – adquirimos as nossas expectativas por uma boa vida, em parte por meio de imagens, filmes, músicas e histórias da nossa vida. Portanto, cabe aos pais, à toda família, padrinhos e mentores adultos e educadores, monitorar esta exposição, e garantir que as imaginações das crianças sejam fortalecidas e nutridas com alimentos saudáveis, com material que proteja a sua inocência, estimule o seu apetite pela aventura da vida cristã e evoque um sentido vocacional da vida. Beleza e contemplação devem ser parte do ambiente comum de uma criança, para que elas aprendam a perceber a dimensão sacramental da realidade. Pais, idosos, padrinhos, parentes, paroquianos, catequistas e professores precisam modelar estas atitudes para as crianças. A formação de jovens necessariamente implica “conhecimento do livro”. Alfabetização espiritual significa conhecimento sobre os fatos da fé. Mas é ainda mais essencial ensinar às crianças como orar, e sugerir-lhes modelos a seguir, exemplos de adultos para elas testemunharem e aspirarem.
  3. Crianças mais velhas podem tornar-se devidamente autoconscientes e reflexivas sobre a cultura do seu ambiente, e também começar a formar uma perspectiva madura sobre a oração e o discernimento vocacional. Estes temas importantes devem ser parte da preparação para se receber o sacramento da Confirmação, o qual concede a graça para possibilitar o fiel discipulado na vida. (82)

A família e a paróquia dependem uma da outra

  1. A Ecclesia domestica, evidentemente, não pode existir sem a Ecclesia. A Igreja doméstica implica uma relação com a Igreja universal: “A família, para ser uma ‘pequena igreja’ precisa ser bem integrada com a ‘grande igreja’, isto é, com a família de Deus da qual Cristo veio.”83 A participação regular na missa de domingo com toda a Igreja é um sine qua non (o meio através do qual) para a igreja doméstica realizar seu nome. A Igreja universal é portadora e mestra da aliança de Deus com o seu povo, a mesma aliança que possibilita e sustenta a vida conjugal e familiar.
  2. O Papa Bento XVI falou sobre a paróquia como uma “família de famílias”, que é “capaz de compartilhar umas com as outras, não só os prazeres, mas também as inevitáveis dificuldades de iniciar a vida familiar.” (84) Com certeza, sacramentos, e frequentemente as obras corporais de misericórdia, podem ser prestativamente facilitadas pela paróquia. As crianças precisam ver os seus pais e outros adultos em suas vidas demonstrando solidariedade com os pobres e fazendo coisas que os beneficiem. Paróquias e dioceses podem ajudar a suscitar estas ocasiões.85 A igreja doméstica serve a paróquia e é servida pela paróquia.
  3. A paróquia, a diocese e outras instituições católicas como escolas, movimentos e associações são especialmente essenciais para as crianças que só têm o pai ou só a mãe. As crianças podem estar sem um ou ambos os pais por uma série de razões, incluindo morte e doença, divórcio, migração, guerra, álcool e dependência de drogas, violência doméstica, abuso, perseguição política, desemprego ou itinerantes condições de trabalho devido à pobreza.86 Infelizmente, às vezes, esposos e esposas, mães e pais separam-se, muitas vezes por razões que exigem a nossa compaixão. “O abalo emocional sofrido por crianças de pais separados, que de repente se encontram com um pai ou mãe solteira ou em uma família ‘nova’, representa um desafio para Bispos, catequistas, professores e todos que são responsáveis pelos jovens. […] Não é uma questão de substituir os seus pais, porém, de colaborar com eles”. (87)
  4. Para uma paróquia efetivamente ser “uma família de famílias” é necessário que haja ações concretas de hospitalidade e generosidade. São João Paulo II disse que “abrir as portas da própria casa e ainda mais do próprio coração” é uma maneira de imitar a Cristo.88 Prestar e receber ajuda são coisas íntimas. Ninguém, especialmente uma criança, pais que lutam com crises inesperadas, idosos em situação vulnerável, ou toda pessoa que estiver sofrendo, deveria ser solitário no seio da família da paróquia. Nada comparado com a amizade e o servir uns aos outros entre simples paroquianos durante a semana, prolongando a vida da Igreja para além das celebrações dominicais. O modo como os leigos se tratam entre eles vai determinar se uma paróquia está cumprindo a sua missão. Esta visão de vida paroquial deve ser ensinada e modelada pelo clero, talvez especialmente em paróquias grandes onde haja a tentação para o anonimato. Mas, ao final, vitalizar uma paróquia desta forma não pode ser de modo clericalizado. Esta é uma versão da vida da Igreja que requer leigos. São Paulo disse aos Gálatas que se “carregue os fardos pesados uns dos outros e” assim ”cumpram a lei de Cristo” (Gl 6, 2). Assim, por conseguinte, se não carregamos os fardos uns dos outros, se deixamos famílias vulneráveis e pessoas solitárias por conta própria ao abandono, então não realizamos o que somos capazes de realizar. Se os nossos estilos de vida não estiverem baseados em comunhão e serviço, então não poderemos amadurecer. Fomos feitos uns para os outros, e viver como se isto não fosse verdade é uma tristeza, uma falta de realização da lei vivificante de Cristo.
  5. A hospitalidade para com as crianças solitárias naturalmente levantará a questão da adoção. João Paulo II, falando para uma assembléia de famílias adotivas, disse:

Adotar uma criança é uma grande obra de amor. Quando ela se realiza, dá-se muito, mas também se recebe muito. É uma verdadeira troca de bens. O nosso tempo conhece, infelizmente, também neste âmbito, não poucas contradições. Perante muitas crianças que, pela morte ou a inabilidade dos pais, ficam sem família, há muitos casais que decidem viver sem filhos por motivos não raro egoístas. Outros se deixam desencorajar por dificuldades econômicas, sociais ou burocráticas. Outros ainda, desejosos de ter um filho “próprio” custe o que custar, vão muito além da legítima ajuda que a ciência médica pode assegurar à procriação, utilizando práticas moralmente repreensíveis. Diante dessas tendências, é preciso reafirmar que as indicações da lei moral não se resolvem com princípios abstratos, mas tutelam o verdadeiro bem do homem, e neste caso o bem da criança, em relação dos interesses aos próprios pais. (89)

João Paulo II esperava que “famílias cristãs fossem capazes de mostrar maior disposição para adotar e criar crianças que têm perdidos os seus pais ou sido abandonados por eles.” (90) Ele tinha esta esperança porque o amor que anima um casamento cristão é a aliança de Deus, um amor que é eternamente hospitaleiro e pleno de vida.

  1. A intimidade sexual entre homens e mulheres aumenta a possibilidade de se ter filhos. Nenhum outro relacionamento leva a esta possibilidade básica, orgânica e biológica. O casamento entre um homem e uma mulher traz este potencial da fecundidade para um contexto espiritual. Ser pais é uma vocação espiritual, porque em última instância significa preparar os nossos filhos para serem santos. Esta ousada ambição implica humildes mas importantes práticas no lar, como a oração e o cultivo de uma disposição espiritual. Isso requer que pais tenham discernimento sobre como uma família se insere na ampla cultura. Conduzir as crianças para o Senhor significa que a igreja doméstica precisa de se integrar tanto com a paróquia como com o resto da Igreja universal. Os desafios da vida familiar exigem apoio. Nenhuma família consegue se desenvolver por sua própria conta. Para prosperar, as famílias precisam das suas paróquias, e as suas paróquias precisam delas. Os leigos são necessários para criar e servir nesses ministérios.

Questões para Partilha:

  1. a) Como o casamento entre um homem e uma mulher se difere de outras amizades íntimas?

  2. b) Você nunca orou com uma criança? Que tal ler a Bíblia com uma criança ou discutir outros aspectos da fé? Se você mesmo não é pai, há crianças na sua vida que poderiam precisar de um amigo ou um mentor?
  3. c) Quais são os hábitos de discernimento? Qual vocação você gostaria de ter?
  4. d) O que é uma igreja doméstica? Como a paróquia serve a família e como a família serve a paróquia? Como a família e a paróquia podem “cumprir a lei de Cristo” como descrito em Gálatas 6, 2?


Fonte em PDF: http://www.worldmeeting2015.org/

Observações Notas Finais do texto:

61. CDC, 1056-1057. 62. CDC, 1055. 63. GS, 47. 64. Santo Agostinho, De Bono Conjugali 32; De Genesi ad Litteram 9.7.12; De nuptiis et concupiscentia, 1.10.11, 17.19, e 21.23. 65. HV, 10. 66. CIgC, 1652-1653, citando GS 48 e 50. 67. Kerri Lanartowick, “‘Hand on the faith,’ Pope instructs parents at baptism,” Catholic News Agency, 12 January 2014. 68. Dt 6, 4-7. Com grifo nosso 69. FC, 14. 70. Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium (LG) (1964), 11. 71. Santo Agostinho, The City of God Against the Pagans (Cambridge, Cambridge University Press, 1998), p. 667, §15.16. 72. LG, 11 e CIgC, 1655-1658. 73. Papa Paulo VI, Encíclica Populorum progressio (PP) (1967), 15. 74. HV, 10. 75. Papa Francisco, Discurso “Encontro com os jovens da Região da Úmbria” Assis (4 de outubro de 2013). 76. Cf. Mt 6, 10; 7, 21; 12, 50 e 21, 31. 77. Santa Teresa de Lisieux, Autobiografia de Santa Teresa de Lisieux: história de uma Alma – The Autobiography of Saint Therese of Lisieux: The Story of a Soul, tradução. John Beevers (Doubleday, 2001), 9. 78. GS, 38. 79. Papa Francisco, Discurso “´Encontro com o clero, os consagrados e os membros dos conselhos pastorais diocesanos” Assis, (04 de outubro de 2013). 80. CIgC, 1656. 81. Cf. Jn 15, 19 e Rm 12, 2. 82. Cf. CIgC 1303 e 1308. 83. Papa Francisco, Discurso “Famílias ensinam o sentido da vida” (04 de outubro de 2010). 84. Papa Bento, Discurso “Faça da paróquia uma família de famílias”. Paróquia de São Corbiano-Roma (21 de março 2011). 85. Cf. FC, 44. 86. Cf. FC, 71 e 77. 87. Pontifício Conselho para a Família, Enchiridion da Família (2004), 1303-1304. O amor é a nossa missão (Portuguese).indd 123 1/6/15 10:37 AM O AMOR É A NOSSA MISSÃO 124 88. Cf. FC, 44. 89. Papa Jõao Paulo II, Discurso “´Encontro das famílias adotivas organizado pelas Missionárias da Caridade” (5 de setembro de 2000). 90. FC, 41.


Encontro de Casais com Cristo_ECC Semana_da_Familia
Estatuto_destruição_da_Familia Familia_projeto_de_Deus Espiritualidade_Cristã_familia

Dois que se tornam Um. – SNF – 2015.


– IV tema da Semana Nacional da Família – 2015.



http://www.aascj.org.br/home/2011/02/16/catolico-pode-casar-com-protestante/

O Sacramento do Matrimônio – Uma só Carne



Não fomos feitos para ficar sozinhos. Os seres humanos precisam uns dos outros e se complementam. A amizade e a comunidade satisfazem aquele anseio por laços de interesse comum e amor. O matrimônio é uma forma íntima e singular de amizade que convida um homem e uma mulher a amar um ao outro aos moldes da Aliança Divina. O matrimônio é um sacramento. O amor matrimonial é frutífero e ofertado sem reservas. Este amor está abarcado na imagem de fidelidade de Jesus à Igreja.

Virtude, amor e bondade nos ajudarão a cumprir a missão

  1. O texto da 1Cor 13, 4-7 é uma escolha muito popular nos matrimônios cristãos: “O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo.”
  2. O texto é belo. Tendo sido criados à imagem de Deus, amar dessa maneira está de acordo com nossa verdadeira natureza humana. No entanto, amar assim nunca é fácil. Requer humildade e paciência. Como disse recentemente o Papa Francisco: “A fé não é um refúgio para gente sem coragem”.(48) O amor conjugal deve ser construído sobre algo mais que romance. O romance é maravilhoso, mas, sozinho, não sobrevive às preocupações e desafios que, inevitavelmente, afligem todo casal. Para ser o que somos – para amar como fomos criados para amar certas virtudes são necessárias. Devemos estar abertos para essas virtudes, cultivá-las para cumprir nossa missão.
  3. A “Teologia do Corpo” de São João Paulo II fala de uma espécie de “liberdade interior” e de “autodomínio” que os cônjuges precisam para se tornarem, verdadeiramente, um dom para o outro.49 Uma pessoa muitíssimo atada a esperanças românticas, sem o fermento da liberdade interior e a capacidade de autossacrifício, perderá flexibilidade. Para viver a sacramentalidade do casamento e seguir a trilha das promessas divinas, maridos e mulheres necessitam da capacidade de transcender o ressentimento, de deixar de lado os direitos e precisam dar um passo rumo à generosidade. Sem essa liberdade e força interiores, problemas sérios seguramente surgirão, pois a vida coloca maridos e mulheres em situações que não são nada românticas.
  4. Nenhum casamento baseado na mera atração sexual perdura. Parceiros eróticos, concentrados principalmente em se possuírem, não têm a habilidade interior para retroceder e dar espaço à autocrítica, à reconciliação e ao crescimento. A promessa conjugal de amar incondicionalmente, como Deus, ajuda a criar e proteger esse espaço vital. O compromisso sacramental de levar a cabo a obra do amor, mesmo quando é difícil amar, é um ingrediente essencial da aliança de Deus.

Amor verdadeiro gera compromisso

  1. Nenhum ser mortal pode satisfazer todos os desejos. A verdadeira unidade conjugal está baseada na aliança de Deus, uma promessa que acolhe bem o desejo erótico, mas que, de modo cada vez mais profundo, compromete homem e mulher, um com o outro na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. O matrimônio cristão não é um teste romântico ou um arranjo condicional “até nova ordem”. (50) O assim chamado casamento “à experiência”, como tentativa de viver de modo íntimo, mas hipoteticamente testar o relacionamento e prosseguir enquanto o romance estiver fluindo, é uma contradição em si. (51) O Papa Francisco, recentemente, apresentou a seguinte idéia em um pronunciamento público:
  • “Mas vós sabeis que o matrimônio é para a vida inteira?” “Ah, nós amamo-nos muito, mas… permaneceremos juntos enquanto o amor durar. Quando terminar, cada qual toma o seu rumo”. É o egoísmo: quando eu não sinto, interrompo o matrimônio e esqueço aquela “uma só carne” que não se pode dividir. É arriscado casar: é arriscado! É aquele egoísmo que nos ameaça, porque dentro de nós todos temos a possibilidade de uma dupla personalidade: aquela que diz: “Eu, livre, eu quero isto…”, e a outra que diz: “Eu, me, mim, comigo, para mim…” Sempre o egoísmo, que volta e não sabe abrir-se ao próximo. (52)
  1. Em resposta à gama de possíveis preocupações e medos, a Igreja indica Jesus, oferece os sacramentos e o apoio de seus próprios membros em mútuo companheirismo, confiante que para todos os desafios, o modo cristão de amar é possível e revelará nossas verdadeiras identidades. A Igreja promete a seus filhos e filhas que o Matrimônio é um sacramento, que o enlace e a prática do casamento católico tornam real, presente e eficaz a graça que o sustenta. Em resposta às nossas ansiedades, a Igreja insiste que prometer amar à maneira da aliança não é algo hipotético para santos idealizados como perfeitos, mas para um compromisso possível para os pecadores de hoje que estão no caminho. Como o Papa Francisco afirma: “No sacramento do Matrimônio há um desígnio deveras maravilhoso! E realiza-se na simplicidade e até na fragilidade da condição humana. Bem sabemos quantas dificuldades e provas enfrenta a vida de dois esposos… O importante é manter viva a união com Deus, que está na base do vínculo conjugal.” (53)
  2. Amar as pessoas desta forma não é algo a ser adiado, dizendo-se que se tentará quando se tiver organizado determinadas questões prá- ticas. As questões práticas da vida são abordadas de forma adequada somente quando amamos desta forma. Amar nesses moldes não é um ideal ou um horizonte inalcançável, ao contrário, amar assim é algo que se escolhe no dia a dia; inicia-se no aqui e no agora, em meio às pressões diárias. Em outra ocasião, ensinou-nos o Papa Francisco:
  • O matrimônio é também um trabalho para realizar em cada dia, poderia dizer um trabalho artesanal, uma obra de ourivesaria, uma vez que o marido tem a tarefa de fazer com que a sua esposa seja mais mulher, e a esposa tem o dever de fazer com que o marido seja mais homem. É preciso crescer também em humanidade, como homem e como mulher. É isto que deveis fazer entre vós. E isto chama-se crescer juntos. Isto não provém do ar! É o Senhor que o abençoa, mas deriva das vossas mãos, das vossas atitudes, do vosso estilo de vida, do modo como vos amais um ao outro. Deveis fazer-vos crescer um ao outro! Fazer com que o outro prospere sempre. (54)

O Papa Francisco reconhece que muitas pessoas podem ter receio desse desafio, que as pessoas podem até evitar o matrimônio em função do ceticismo ou do medo:

  • Hoje em dia, muitas pessoas têm medo de fazer escolhas definitivas. […] Parece impossível fazer escolhas para a vida inteira. […] E esta mentalidade leva muitas pessoas que se preparam para o matrimônio a afirmar: “permaneçamos juntos, enquanto o amor durar”; e depois? Muitas saudações e até à vista! E assim termina o matrimônio. Mas o que entendemos por “amor”? Apenas um sentimento, uma condição psicofísica? Sem dúvida, se for assim, não será possível construir sobre ele algo de sólido. Ao contrário, se o amor for uma relação, então será uma realidade que cresce, e como exemplo até podemos dizer que se constrói como uma casa. E a casa construísse juntos, não sozinhos! […] E não desejais alicerçá-la sobre a areia dos sentimentos que vão e voltam, mas sobre a rocha do amor autêntico, do amor que provém de Deus. […] Por favor, não devemos deixar-nos dominar pela “cultura do provisório”! Esta cultura que hoje invade todos nós, esta cultura do provisório. Não pode ser assim! Portanto, como se cura este medo do “para sempre”? Cura-se dia após dia, confiando-se ao Senhor Jesus numa vida que se torna um caminho espiritual quotidiano, feito de passos, de pequenos passos, de passos de crescimento comum […] (55)

Bons casamentos são construídos sobre as virtudes, em especial a misericórdia e a castidade

  1. Aqueles que desejam construir seu matrimônio sobre a rocha haverão de cultivar determinadas virtudes. O Catecismo da Igreja Católica afirma que no sacramento do Matrimônio, Cristo habita com o casal e lhe ajuda a carregar sua cruz, “levantar-se depois da queda, perdoar-se mutuamente, carregar o fardo uns dos outros”.56 O Papa Francisco faz uma correlação de forma sucinta quando afirma que a vida em comum é uma arte que pode ser resumida em três palavras: por favor, obrigado e desculpa. (57) Aprender a utilizar essas expressões pode ser difícil, mas, por outro lado, os casamentos podem se tornar muito penosos, de forma súbita, na falta delas.
  2. Todas as virtudes cardeais (prudência, temperança, justiça, fortaleza) juntamente com as virtudes teologais (fé, esperança e amor) são importantíssimas e relevantes para que o matrimônio floresça. A semente em particular que provê o crescimento do matrimônio é a castidade. Precisamos da prática da liberdade interior para treinarmos nossos corações para o matrimônio; a práxis de percebermos nossa sexualidade no contexto da comunhão e da santidade individual um do outro. A castidade forma o bom hábito da abnegação e do autocontrole, que são pré-requisitos para tratar os outros com misericórdia.
  3. A verdadeira união matrimonial jaz também na misericórdia, uma virtude que aprendemos de Jesus e observamos por toda a Aliança de Deus. Rezamos na liturgia: “Senhor, tende piedade”, e o Senhor nos concede sua misericórdia de modo que possamos ser misericordiosos.
  4. A misericórdia cresce à medida que amamos como Cristo nos ensinou. A “graça do matrimônio cristão é um fruto da Cruz de Cristo, fonte de toda a vida cristã”. (58) Os católicos creem que “é o próprio Cristo quem age” em cada um dos sete sacramentos, e que o Espírito Santo é como um fogo atuando, “transformando em vida divina” tudo o que alcança. (59) No sacramento do Matrimônio, a aliança divina torna-se visível, a graça da aliança é comunicada e compartilhada.60 Neste sacramento, a aliança de Deus adentra nossos lares e torna-se o alicerce de nossas famílias.
  5. O matrimônio cristão é uma questão de mútua oferta. É certo que há alternativas e outros modelos de “matrimônio” oferecidos à sociedade como um todo. Contudo à medida que o “matrimônio” torna-se uma espécie de premiação concedida a si mesmo e ao parceiro somente após uma longa seqüência de experiências eróticas, ou quando este se situa no simples nível do contrato, ou seja, uma divisão de direitos entre indivíduos que procuram proteger sua autonomia, estamos semeando, desta forma, as sementes do desapontamento e do conflito. O eros se esvai e declina. E uma situação de litígio por direitos não é terreno fértil para a misericórdia.
  6. Ao longo dos séculos, os seres humanos se casaram por inúmeras razões, algumas enobrecedoras e outras apenas pragmáticas. No matrimônio sacramental, a Igreja nos oferece abrigo, graça e um ensinamento diário sobre a natureza de Deus. Os compromissos matrimoniais no seio da Igreja convocam constantemente o esposo e a esposa a alcançar o melhor de suas naturezas e ainda situam o casamento num âmbito de relação aos outros sacramentos, em especial a Reconciliação e a Eucaristia. Esta economia sacramental pressupõe a reconciliação e a fidelidade como alicerces da vida conjugal, e, ao realizar isso, fomenta e protege a verdadeira comunhão entre os dois sexos. Para as pessoas nesta época pós-moderna, incertas no que e em quem podem confiar, tal empreendimento parece arriscado. Porém, a Igreja, que conhece o coração humano melhor do que nós mesmos, sabe também quem é Jesus: o Senhor digno de confiança. Sua forma de amar é indubitavelmente a única.
  7. Jesus cria uma nova possibilidade para nós, uma nova visão do casamento fundamentada em sua aliança com a Igreja, uma vida conjugal alicerçada na solidez, na castidade e na misericórdia. Pode-se perceber como o matrimônio sacramental integra-se com a inteireza da vida cristã, pois o cultivar das virtudes do amor, da liberdade interior, da fidelidade, da misericórdia e do perdão é um projeto para toda a vida que se constrói sobre o hábito da oração, participação nos sacramentos e familiaridade com a história da Aliança divina. O Senhor sabe que nem todos os casamentos demonstram todas as virtudes a todo tempo, entretanto em sua misericórdia, Ele nos oferece a Penitência e a Eucaristia de modo que possamos crescer em nossa capacidade de amar como Jesus ama. Orientar nossas vidas a este modo requer de nós sacrifício, contudo, no final das contas, como é bela esta vida. Jesus é o caminho para a verdade e a alegria.

Questões para partilha

  1. a) Qual é a espiritualidade católica do matrimônio? O que as famílias podem fazer para celebrar e proteger o matrimônio cristão?
  2. b) Sendo o matrimônio um sacramento, quais as implicações para o namoro? Quais qualidades deveríamos buscar em um possível futuro cônjuge?
  3. c) Como se relacionam os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia com o sacramento do Matrimônio?
  4. d) No Pai-Nosso, dizemos “perdoai-nos a nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Você considera isso fácil ou difícil de realizar? Como o perdão possibilita as relações?


Fonte em PDF: http://www.worldmeeting2015.org/

Observações Notas Finais do texto:

48. LF, 53 49. Cf. TdC (16 de Janeiro, 1980). 50. CIgC, 1646. 51. Cf. CIgC, 2391. 52. Papa Francisco, Mensagem, “Encontro com os Jovens da Região da Úmbria”, Assis (4 de outubro de 2013). 53. Papa Francisco, Audiência Geral, “Matrimônio: o coração do plano de amor de Deus para a humanidade ” (2 de abril de 2014). 54. Papa Francisco, Discurso aos noivos que se preparam para o matrimônio, Cidade do Vaticano (14 de fevereiro, 2014). 55. Papa Francisco, Discurso aos noivos que se preparam para o matrimônio, Cidade do Vaticano (14 de fevereiro, 2014). 56. CIgC, 1642. 57. Papa Francisco, Discurso aos noivos que se preparam para o matrimônio, Cidade do Vaticano (14 de fevereiro, 2014). 58. CIgC, 1615. 59. Cf. CIgC, 1127. 60. CIgC, 1617.


Encontro de Casais com Cristo_ECC Semana_da_Familia
Estatuto_destruição_da_Familia Familia_projeto_de_Deus Espiritualidade_Cristã_familia

O significado da sexualidade humana – SNF – 2015.


– III tema da Semana Nacional da Família – 2015.



Masculino_ou_Feminino_genero_não



O mundo tangível, terreno, corpóreo é mais do que matéria inerte ou maleável ao arbítrio humano. A criação é sagrada. Tem um significado sacramental. Reflete a glória de Deus. Inclui nosso corpo. Nossa sexualidade tem a capacidade de procriar e partilhar da dignidade de ser criada à imagem de Deus. Precisamos viver de acordo com isso.

O mundo físico da natureza está cheio de bondade espiritual

37. A fé católica sempre foi uma religião vigorosamente “física”. A Bíblia começa com um jardim e termina com um banquete. (33) Deus criou o mundo e disse que era bom e ingressou na história. Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnou-se e tornou-se um de nós. Nos sacramentos, coisas materiais são consagradas e transformadas em sinais visíveis da graça. Os costumeiros pão e vinho, água, óleo e o toque das mãos humanas são modos tangíveis pelos quais a presença de Deus se torna efetiva e real.

38. Acreditamos nas obras materiais da caridade. Quando alimentamos os famintos, damos de beber a quem tem sede, vestimos o que está nu, abrigamos os estrangeiros, assistimos aos doentes, visitamos os encarcerados ou enterramos os mortos, verdadeiramente, servimos a Jesus (cf. Mt 25, 3540). Confiamos na bondade da criação de Deus (cf. Gn 1, 431). Essa confiança permeia a imaginação católica. Torna-se visível em nossa arte e arquitetura, na cadência das festas e jejuns do calendário litúrgico, na piedade popular e nos sacramentais.

A sexualidade masculina e feminina participa do propósito espiritual

39. A criação material tem um significado espiritual com consequências para o modo como vivemos como homem e mulher. Nossa sexualidade tem um propósito. Nossos corpos não são meros invólucros para a alma ou máquinas sensórias para o cérebro. Não são matéria-prima que possamos maltratar ou reprogramar à vontade. Para os cristãos, corpo e espírito estão profundamente integrados. Cada ser humano é uma unidade de corpo e alma. Santa Hildegarda de Bingen escreveu que “O corpo é, na verdade, o templo da alma, cooperando com a alma por meio dos sentidos como a roda de moinho é movida pela água.” (34) O corpo tem uma dignidade inerente como parte da criação de Deus. É parte íntima de nossa identidade e destino eterno. Os dois sexos, literalmente, encarnam o desígnio divino de interdependência humana, de comunidade e de abertura à nova vida. Não podemos degradar ou maltratar o corpo sem infligir um custo ao espírito.

40. Por certo, nem sempre amamos como deveríamos. O sexo é um fator extremamente poderoso nos assuntos humanos – tanto para o bem quanto para o mal. Assim, a sexualidade usada de maneira incorreta ou desordenada sempre foi uma grande fonte de confusão e pecado. Desejo sexual e auto-compreensão podem ser complexos, mas não são auto-interpretáveis. Nossa identidade é revelada em Jesus e no plano de Deus para nossas vidas, não em autoafirmações decaídas.

41. O casamento existe porque a procriação e a comunhão, a biologia e a promessa divina, o natural e o sobrenatural, juntos, fundamentam o que é ser “humano”. O matrimônio existe porque descobrimos e aceitamos, e não porque inventamos ou renegociamos a vocação para a oferta de si mesmo que é algo intrínseco a ser criado, na aliança, homem e mulher. O matrimônio é uma criação de Deus, porque somos criaturas de Deus, e porque Deus criou homem e mulher para comungar com ele de sua aliança.

42. Nossa origem, com dois sexos diferentes e complementares, e a vocação ao amor, à comunhão e à vida (35) são um único e mesmo momento. Nas palavras do papa Francisco: “Esta é a história do amor, a história da obra-prima da criação.” (36)

43. Essa vocação ao amor, à comunhão e à vida, envolve todo o ser do homem e da mulher, corpo e alma. A pessoa humana é, simultaneamente, um ser físico e espiritual. (37) O corpo, de certo modo, revela a pessoa. (38) Consequentemente, a sexualidade humana nunca é simplesmente funcional. A diferença sexual, visível no corpo, favorece diretamente o caráter esponsal do corpo e a capacidade de amar da pessoa. (39) No centro desse chamado a amar, está o chamado de Deus: “Sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn 1, 28). A união esponsal dos cônjuges por intermédio do corpo também é, portanto, pela própria natureza, um chamado para viver como pai e mãe. (40)

44. Por justo motivo percebemos júbilo nas palavras de Adão à primeira visão de Eva: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!” (Gn 2, 23). O Catecismo da Igreja Católica observa que desde o início: “O homem descobre a mulher como um outro ‘eu’, da mesma humanidade”. (41) Homem e mulher partilham de idêntica dignidade que provém de Deus, o Criador. No plano de Deus, semelhança e alteridade de homem e mulher coincidem na complementaridade sexual como masculino e feminino. Criados juntos (cf. Gn 1, 2627), homem e mulher são destinados um para o outro. (42) A diferença sexual é uma advertência primordial de que somos feitos para doarmo-nos aos outros guiados pela virtude e pelo amor de Deus.

45. São João Paulo II muitas vezes falou sobre “o significado nupcial ou esponsal do corpo”. (43) Fez ressoar o ensinamento do Concílio Vaticano II que a “união [entre homem e mulher] constitui a primeira forma de comunhão entre pessoas”.(44)  A diferença sexual, todavia, marca todos os relacionamentos, mesmo para os que ainda não são casados, já que ingressamos na vida como filho ou filha. Somos chamados a ser irmão ou irmã, não só para a nossa família, mas também para com os mais necessitados, para as comunidades e para a Igreja. Nossa identidade como homens e mulheres está na base de nossa vocação à paternidade ou à maternidade, natural ou espiritual. Dessa maneira, a diferença sexual tem importância universal.

46. Por ser um componente central de nossa identidade, a sexualidade não pode ser isolada do significado da pessoa humana. O sexo nunca é, simplesmente, um impulso físico ou emocional. Sempre encerra algo mais. O desejo sexual mostra que nunca somos autossuficientes. Almejamos uma amizade íntima com outrem. A relação sexual, não importa quão fortuita, nunca é apenas um ato biológico. De fato, a intimidade sexual é sempre, em certo sentido, conjugal, porque cria um laço humano, pouco importando o quanto seja intencional. Um ato conjugal propriamente ordenado nunca é simplesmente um ato erótico autônomo, voltado para si mesmo. Nossa sexualidade é pessoal e íntima, mas sempre tem uma dimensão e consequência sociais. Um matrimônio sacramental nunca é um bem privado, mas algo descoberto na relação com a aliança maior com Deus.

Temos uma ética sexual porque o sexo tem um significado espiritual

47. Duas vocações diferentes fazem justiça à convocação de ser homem e de ser mulher no plano de Deus: matrimônio e celibato. Ambas as disciplinas convergem na premissa comum de que a intimidade sexual entre homem e mulher é parte e desabrocha no contexto de uma aliança. O celibato é o caminho pelo qual as pessoas não casadas confirmam a verdade e a beleza do matrimônio. Ambos, celibato e matrimônio, se abstêm de ter relações sexuais que usem outras pessoas de modo condicional ou temporário. A autêntica abstinência do celibato, certamente, não é o desdém pelo sexo, mas, ao contrário, significa honrar o sexo por insistir que a intimidade sexual serve à promessa divina e é servida por esta. Ao viver à luz dessa aliança, os casais unidos em matrimônio e os celibatários oferecem, igualmente, a sexualidade à comunidade, para a criação de uma sociedade que não tem por base a concupiscência e a exploração.

48. Os três capítulos a seguir abordarão, em detalhes, o matrimônio (capítulos 4 e 5) e o celibato (capítulo 6). Ambas as modalidades, no entanto, estão baseadas no mandamento divino para viver a masculinidade e a feminilidade de modo generoso, fazendo dom de si. Esses dois estados de vida voltam o olhar para a promessa divina e experimentam, no fato da criação como homem e mulher, uma ocasião de alegria. A disciplina que se impõe ao amor – a disciplina dos que observam a aliança – às vezes é sentida como um fardo; todavia, essa disciplina honra e revela, precisamente, o verdadeiro significado do amor criado à imagem de Deus.

49. Nossa criação como homem e mulher à imagem de Deus é o motivo pelo qual todos somos chamados à virtude da castidade. A castidade é expressa de maneiras diferentes, caso sejamos casados ou não. Entretanto, para todos, a castidade encerra a recusa a utilizar o próprio corpo ou o corpo de outrem como objetos de consumo. A castidade é o hábito, sejamos casados ou não, de viver nossa sexualidade com dignidade e graças à luz dos mandamentos de Deus. Concupiscência é o oposto de castidade. A concupiscência inclui olhar para o próximo de modo utilitário, como se o corpo do outro existisse simplesmente para satisfazer um apetite. A verdadeira castidade “não despreza o corpo”, mas o vê nas dimensões plenas da pessoa. (45) A castidade é um grande “sim” à verdade da humanidade criada à imagem de Deus e chamada para viver na aliança.

50. Compreendida dessa maneira, a castidade é o que todos são chamados a praticar: “Todo o batizado é chamado à castidade. […] As pessoas casadas são chamadas a viver a castidade conjugal; as outras praticam a castidade na continência.” (46) O amor matrimonial casto situa o eros no contexto do amor, do cuidado, da fidelidade e da abertura aos filhos. O celibato casto, pela continência, afirma que a intimidade sexual pertence ao contexto do amor, do cuidado e da fidelidade.

51. As raízes desse ensinamento cristão são antigas. Como escreveu Santo Ambrósio, no Século IV: “Existem três formas da virtude da castidade: uma, das esposas: outra, das viúvas; a terceira, da virgindade. Não louvamos uma com exclusão das outras. […] É nisso que a disciplina da Igreja é rica.” (47)

52. Saber como viver esse ensinamento concretamente, seja no matrimônio ou no celibato e nas circunstâncias difíceis dos dias de hoje, é a tarefa que nos servirá de guia na continuidade desta catequese.

53. Deus criou todo o mundo material por amor a nós. Tudo o que podemos ver e tocar, até mesmo nossos corpos femininos e masculinos, foi criado para a aliança com Deus. Nem sempre amamos como deveríamos, mas o amor exemplar de Deus nos protege e nos faz retornar às nossas devidas naturezas. Matrimônio e celibato são dois modos de estar juntos como homem e mulher à luz das promessas de Deus e, por isso, tanto o matrimônio quanto o celibato são considerados modos de vida castos.

Questões para partilha

  • Por que os católicos apreciam e valorizam tanto o mundo físico, tangível? Pense em alguma coisa bela, como a natureza, os corpos, a comida ou a arte – por que essas coisas são tão importantes na tradição católica?
  • Qual é o propósito da criação? O mundo físico é um livro em branco que somos livres para reger e explorar conforme nossos próprios desejos?
  • Descanso, comida, prazer e beleza são atraentes. Mas, às vezes, temos desejos e apetites profundos além daquilo que é bom para nós. Como sabermos quando um desejo é legítimo e bom? Como podemos cuidar e desfrutar da criação e de nosso corpo na vida diária?
  • Por que você acha que a prática católica inclui, tradicionalmente, festas e jejuns? Celibato e matrimônio?

Fonte em PDF: http://www.worldmeeting2015.org/

Observações Notas Finais do texto:

(33). Cf. CIgC, 1602. 34. Santa Hildegard de Bingen, Explanatio Symboli Sancti Athanasii in Patrologia Latina 197, 1073. Cf. 1Cor 6, 19. 35. CIgC, 2331 e FC, 11. 36. Papa Francisco, Homilia, “The Pope’s Mass at Santa Marta – When a love fails,” L’Osservatore Romano, (28 February 2014). 37. Cf. CIgC, 362. 38. Cf. Papa João Paulo II, Audiências das Quartas-feiras, Teologia do corpo (TdC) (9 de Janeiro, 1980). 39. Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta sobre a Colaboração entre homens e mulheres , (2004), 8. 40. Cf. Papa Paul VI, Encíclica Humanae vitae (HV) (1968), 12. 41. CIgC, 371. 42. Cf. CIgC, 371. 43. Cf. TdC (2 de Janeiro, 1980). 44. GS, 12. 45. Cf. Karol Wojtyla, Love and Responsibility (Amor e Responsabilidade) (Ignatius Press, 1993), 171. 46. Cf. CIgC, 2348 e 2349. 47. CIgC, 2349.


Encontro de Casais com Cristo_ECC Semana_da_Familia
Estatuto_destruição_da_Familia Familia_projeto_de_Deus Espiritualidade_Cristã_familia

A missão do amor – SNF – 2015.


– II tema da Semana Nacional da Família – 2015.



Família Reunida

Família Reunida



Deus opera por meio de nós. Temos uma missão. Há um propósito neste mundo para nós: receber o amor de Deus e manifestá-lo aos outros. Deus busca curar um universo ferido. Convida-nos a sermos suas testemunhas e operários nesta obra.

A Sagrada Escritura oferece a substância e a forma do significado do amor

21. A história começa com o fato de termos sido criados à imagem de Deus. Na história, Deus convoca e forma um povo. Ele faz uma aliança connosco: primeiro por meio de Israel, depois por Cristo e pela sua Igreja. Nesta relação, Deus nos ensina a amar como Ele ama.

22. Com outras palavras, uma vez que fomos criados para a comunhão, aprendemos que o amor é a nossa missão. O dom de nossa existência precede e modela o que fazemos e como vivemos. Em suma: “o modo de Deus amar torna-se a medida do amor humano”.

23. A humildade é o requisito para se viver desta forma. Isso requer que conformemos os nossos corações a Deus e vejamos o mundo por meio de Seus olhos. O melhor caminho é Deus, embora nem sempre o mais fácil.

24. A Bíblia é plena de imagens do amor de Deus. Ele se apresenta como um pai acolhedor de seu filho retornando à casa, e para quem realiza um banquete (cf. Lc 15, 1132). Ele é o pastor em busca de sua ovelha perdida (cf. Lc 15, 37). Deus é uma mãe que conforta seus filhos (cf. Is 66, 13). Deus é um amigo que doa sua vida em favor dos outros, e chora quando seus amigos sofrem (cf. Jo 11, 35). Ele é um pedagogo que nos conduz a amar e servir aos outros como nossos irmãos (cf. Mt 22, 39). Deus é o jardineiro que de nós cuida até produzirmos bons frutos (cf. Jo 15,1). Ele é o Rei que nos convida para o banquete de núpcias de seu filho (cf. Mt 22, 114). Deus ouve o clamor do homem cego e para a fim de perguntar: O que você quer que eu faça por você? (cf. Mc 10, 4652). Deus é acolhedor, pleno de compaixão para com seu povo, quando este está faminto oferece-lhe comida e doa-se a si mesmo (cf. Mt 26,26).

O matrimónio é uma essencial imagem bíblica do amor de Deus

25. Todas essas imagens e muitas outras nos ajudam a perceber a profundidade do amor de Deus. Elas enfatizam o tipo de amor a que somos chamados a testemunhar em nossas próprias vidas. O Papa Bento XVI observou que uma imagem fundamental nos oferece um contexto para todas as outras: “Deus ama o seu povo”. A revelação bíblica, com efeito, antes de tudo é expressão de uma história de amor, a história da aliança de Deus com os homens. Eis porque a história do amor e da união entre um homem e uma mulher na aliança do matrimônio foi assumida por Deus como símbolo da história da salvação.

26. A imagem do matrimônio é central para a descrição da aliança de Deus com Israel, e mais adiante, com a Igreja. Assim ensina o Papa Bento XVI: “O matrimônio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa”. Tema central na Sagrada Escritura é aliança com Deus, e o matrimônio é uma metáfora privilegiada para descrever o relacionamento d’Ele com a humanidade. Nesta perspetiva, quando ainda era arcebispo de Munique, Bento XVI havia explicado: Podemos afirmar que Deus criou o universo para que pudesse entrar em uma história de amor com a humanidade. Ele o criou de modo que o amor pudesse existir. Por trás disso estão palavras de Israel que nos conduzem diretamente ao Novo Testamento… Deus criou o universo e desta forma é capaz de tornar-se um ser humano, derramar seu amor em nós e nos convidar a retribuir esse amor.

27. Esta imagem nupcial inicia-se no Antigo Testamento. Aprendemos ali que Deus nos ama de forma íntima, com ternura e anseio. “Sobretudo os profetas Oseias e Ezequiel descreveram esta paixão de Deus pelo seu povo, com arrojadas imagens eróticas.” Em Oseias, Deus promete “seduzir” Israel “falando-lhe de forma carinhosa”, até que ela “responda como nos dias de sua juventude” e me chame de “seu esposo” (cf. Os 2, 1416). Em Ezequiel, Deus fala a Israel em imagens sensoriais: “Estendi o manto sobre ti para cobrir a nudez. Eu te fiz um juramento, estabelecendo uma aliança contigo – oráculo do Senhor Deus – e passaste a ser minha. Banhei-te na água […] e te ungi com óleo. […] Ficaste extremamente bela e chegaste à realeza.” (Ez 16,713) Encontramos linguagem semelhante em Isaías, Jeremias e nos Salmos. O livro do Cântico dos Cânticos também impulsionou pregações ao longo dos séculos utilizando o matrimônio para explanar a intensidade do amor de Deus para com o seu povo.

A Bíblia não é sentimentalista em relação ao amor conjugal

28. O casamento entre Deus e o seu povo não pode ser empedernido. “O relacionamento de Deus com Israel é descrito com as metáforas do noivado e do matrimônio”, desta forma quando o povo de Deus peca, essa queda torna-se um tipo de ‘adultério e prostituição’. Em Oseias, o amor de Deus por Israel o coloca na posição do esposo traído por uma esposa infiel. Assim Ele fala a Oseias: “Vai amar de novo aquela mulher adúltera, amada por um amante. É dessa forma que o Senhor ama os filhos de Israel, apesar de o terem trocado por outros deuses.” (Os 3,1).

29. Quando o povo de Deus se esquece de seus mandamentos, negligencia em seu meio o pobre, procura a segurança proveniente de forças estrangeiras ou se volta para falsos deuses – as palavras adultério e prostituição são os termos apropriados para descrever sua infidelidade.

30. Ainda assim, Deus permanece inabalável. O Papa Francisco, em uma recente reflexão sobre o texto de Ezequiel 16, percebe como Deus fala palavras de amor mesmo quando Israel lhe é infiel. Israel peca, esquece-se do único Deus, prostitui-se ao buscar falsos deuses. Porém Deus não abandona o povo da aliança. O arrependimento e o perdão sempre são possíveis. Sua misericórdia significa que Ele busca o bem de Israel enquanto este foge d’Ele. “Mulher abandonada e aflita, o Senhor te chama. Esposa da juventude um dia abandonada, contigo fala o teu Deus. Por um breve instante eu te abandonei, com imenso amor de novo te recolho […] com amor eterno voltei a me apaixonar por ti” (Is 54, 68). Deus persevera em seu amor pelo seu povo, mesmo que caíamos, mesmo quando insistimos em tentar viver sem Ele.

31. Nos mesmos moldes, o amor cristão envolve muito mais do que emoção. Este inclui o erótico e o afetivo, mas também a escolha. O amor é uma missão que recebemos, uma disposição para acolher; uma convocação à qual aderimos. Este tipo de amor possui dimensões que descobrimos à medida que nos rendemos a ele. Este tipo de amor procura e segue o Deus cuja aliança de fidelidade nos ensina o que é o amor. Deus nunca troca Israel por uma parceira mais atraente. E Ele também não se torna desencorajado pela rejeição. Ele nunca é temperamental. Deus deseja somente o melhor, o verdadeiro, e o supremo bem para o seu povo. Como o seu amor por Israel é uma paixão ardente – ninguém ao ler os profetas pode negar isso – este aspeto ‘erótico’ do amor divino é sempre fermentado com Sua fidelidade sacrificial. O eros de Deus sempre está integrado à Sua compaixão e paciência.

Matrimônio, amor e o sacrifício de Cristo na cruz

32. O amor de Deus é retratado de forma muito vivaz na Carta aos Efésios, capítulo 5. Neste trecho, São Paulo emprega a analogia do matrimônio em relação a Cristo e à Igreja. Paulo incita tanto os maridos quanto as mulheres a “serem submissos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5,21). O matrimônio cristão não é, portanto, uma negociação de direitos e responsabilidades, mas antes uma manifestação de uma mútua doação. É muito mais radical do que qualquer igualitarismo. De fato, Paulo escreve que “o marido é a cabeça da mulher, como Cristo também é a cabeça da Igreja” (Ef 5,23). Mas o que isso significa no contexto e na prática? Paulo conclama os maridos a um amor abnegado que espelha o sacrifício de Cristo na cruz. Paulo, em profunda contraposição a outros códigos conjugais do mundo antigo, destrói o machismo e a exploração, quando ensina uma dinâmica à imagem de Deus: “Maridos, amai vossas mulheres como Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25). A partir da leitura de Efésios 5, a Igreja fala do matrimônio enquanto sacramento e convoca os casais a esse tipo de comunhão cruciforme e de sacrifício pelo outro.

33. Jesus capacita os cristãos a falar confiantemente sobre o amor de Deus. Ele concede a aliança de Deus, em sua plenitude, a todos os povos, e assim, realiza-se a história de Israel como uma narrativa universal da redenção. Jesus incorpora o amor-doação pois Ele é, literalmente, a Palavra de Deus feita carne. Ele ama a Igreja como sua esposa, e isso é amor altruísta – provado pelo sangue derramado na cruz – que se propõe como modelo para o tipo de amor e serviço necessários em cada casamento e família cristã.

34. Como ensinou o Papa Bento XVI: “O olhar fixo no lado trespassado de Cristo de que fala João (cf. 19, 37), compreende […] ‘Deus é amor’ (1Jo 4, 8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar”.

35. Hoje, para muitos, ‘amor’ é um pouco mais que um calorzinho no coração ou uma atração física. Estas coisas até têm o seu lugar, contudo, o verdadeiro amor – um amor que se aprofunda, suporta e satisfaz o coração humano ao longo de toda uma vida – cresce a partir do que ofertamos aos outros, e não do que tiramos para nós mesmos. O Senhor Jesus morreu na cruz para a nossa salvação. Aquela capacidade radical e libertadora de abandonar nossas prerrogativas e nos ofertarmos aos outros é o elemento que torna coeso todo o ensinamento católico sobre o matrimônio e a família. O ensinamento católico autêntico sobre o matrimônio e a família faz a separação entre amor verdadeiro e todas as outras falsas formas.

36. A Sagrada Escritura possui muitas outras formas complementares e sobrepostas de descrever o amor de Deus, mas a do matrimónio é a que se sobressai. A aliança entre Deus e seu povo – primeiro Israel e depois a Igreja – é como um casamento. Este casamento nem sempre é fácil, mas o pecado nunca possui a última palavra. A fidelidade de Deus revela como o amor verdadeiro e a fidelidade realmente são. Jesus Cristo, que nos acolhe a todos como membros da família de Deus, dá-nos uma definição nova e inaudita do amor, oferece-nos novas possibilidades para vivenciá-lo.

Questões para partilha

  • Por que o amor de Deus assemelha-se ao matrimônio?
  • De que forma o amor de Deus se distingue do nosso modo de amar?
  • O que é o verdadeiro amor e como fazer para reconhecê-lo? Quais são as semelhanças e as diferenças entre a noção cultural de amor romântico e o amor da Aliança de Deus?
  • Pode pensar em algum momento de sua vida no qual o amor de Deus lhe ajudou a amar de uma forma mais intensa e honesta?

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Criados para a alegria – SNF – 2015.


– I tema da Semana Nacional da Família – 2015.




Familia_feliz



Somos mais do que um acidente da evolução. Somos maiores do que o somatório de nossa parte biológica. Deus existe. Ele é bom! Ele nos ama. E nos fez à sua imagem para partilharmos de sua alegria. Ele assume um papel ativo em nossas vidas. Enviou seu único filho para restaurar nossa dignidade e nos conduzir de volta à sua casa.

Um plano para a vida e o amor que nos sustenta

1. O ensinamento cristão sobre o matrimônio provém do coração da nossa fé. Por esta razão, podemos começar por uma revisão básica da história da Igreja. Nosso Deus não é inacessível e distante. Cremos que Deus se revela a si próprio na pessoa de Jesus Cristo. Jesus é a fonte de nossa esperança, fé, amor e alegria que deve animar a vida da família cristã. Ele é a razão que fundamenta a sabedoria da fé cristã. Tudo o que é oferecido nesta catequese provém do próprio Jesus

2. Como disse recentemente o Papa Francisco, “prometer um amor que dure para sempre é possível quando se descobre um desígnio maior que os próprios projetos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada.” Contudo, vivemos em uma época de um ceticismo mundano e arraigado a respeito de qualquer “desígnio maior” ou experiência mais elevada da existência humana. Para muitas pessoas, a pessoa humana é algo um pouco mais do que um acidente da evolução: átomos de carbono com atitude. Em outras palavras, para muitos, não há propósito maior algum do que quaisquer significados que construamos para nós mesmos.

3. Em uma época de tecnologia sofisticada e de riqueza material, este tipo de ponderação sem Deus pode soar pertinente. Mas ao fim, trata-se de uma visão muito limitada do que somos enquanto mulheres e homens. Visão que prejudica a dignidade humana e contribui para que as almas continuem famintas, visto que esta visão não é verdadeira.

4. De fato, ansiamos por sentido na vida. Um anseio por propósito é uma experiência humana universal. Desta forma, os seres humanos sempre fizeram perguntas básicas como: Quem sou eu? Por que estou aqui? E, Como devo eu viver? A fé cristã emergiu no antigo mundo intercultural de gregos, romanos, hebreus e outras culturas do mediterrâneo. Era um mundo no qual muitas respostas distintas às questões básicas da vida lutavam por domínio.

5. Nossa situação atual é similar. Assim como no mundo antigo, as culturas de hoje se justapõem e se intercambiam. Assim como naquela época, as filosofias de vida competem e oferecem visões distintas do que torna boa a vida. Ao mesmo tempo, o sofrimento e a pobreza também abundam, assim como o cinismo – em algumas culturas – em contraponto a qualquer religião ou filosofia que conclama a oferecer segurança e verdade de forma ampla.

6. Vivemos uma época de confusão com tantas respostas conflitantes. Muitas pessoas hoje procuram honestamente por sentido, mas não sabem em quem confiar ou ao que comprometer suas vidas.

7. Em meio às incertezas, os cristãos são pessoas que confiam em Jesus Cristo. Apesar das ambiguidades da história humana, o modo católico de vivenciar a esperança e a alegria, o amor e o serviço, se fundamenta no encontro com Jesus. Como nos fala São João Paulo II em sua primeira encíclica: a “revelação do amor e da misericórdia tem na história do homem uma forma e um nome: chama-se Jesus Cristo”. Tudo o mais provém disso. Jesus Cristo é o fundamento da fé cristã.

Jesus nos revela Deus e o seu desígnio é manifestado

8. Na Sagrada Escritura, Jesus pergunta aos seus discípulos: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Mt 16, 1320). Ao longo de dois mil anos, a história humana tem-se voltado para esta questão. Os cristãos são pessoas que tendo encontrado Jesus de diversas maneiras pelo testemunho dos santos e dos apóstolos, por meio da Bíblia e dos sacramentos, na oração e no serviço aos pobres, na adoração e também por meio dos amigos e da família – tornam-se capazes de confiar em Jesus e junto a Pedro afirmarem: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).

9.Entre tantas coisas que Ele fez na Terra, embora diante do sofrimento pessoal, Jesus perseverou no amor. Ele foi crucificado por mãos humanas e ainda assim ressuscitou vitorioso sobre a morte. Uma vez que o próprio Deus sofreu nesta intensidade, os cristãos creem que Deus não permanece alheio à condição humana. Não cremos em um deus excêntrico ou em alguma deidade em competição com os seres humanos. O Deus em quem confiamos nos quer ver florescer. Graças a Jesus Cristo, os católicos possuem a confiança no amor de Deus por nós. Assim nos fala o Papa Francisco em sua primeira encíclica: Ao homem que sofre, Deus não dá um raciocínio que explique tudo, mas oferece a sua resposta sob a forma duma presença que o acompanha, duma história de bem que se une a cada história de sofrimento para nela abrir uma brecha de luz. Em Cristo, o próprio Deus quis partilhar connosco esta estrada e oferecer-nos o seu olhar para nela vermos a luz. Cristo é aquele que, tendo suportado a dor, Se tornou “autor e consumador da fé” (Hb 12, 2).

10. Em certo sentido, toda a teologia cristã é um tratado sobre o que significa dizer que Deus se fez homem, morreu e ressuscitou. A presença de Deus na carne humana de Jesus significa que o Criador transcendental do mundo é também ao mesmo tempo nosso Pai: imanente, afetuoso e íntimo. O Deus Uno e Trino sempre permanecerá um mistério infinito, e ainda assim, este mesmo Deus se tornou um certo homem no tempo e no espaço definidos. Deus se fez tão vulnerável quanto um bebé em uma manjedoura ou um homem pregado numa cruz. Jesus ensinou, discursou, riu e chorou. Sua morte e ressurreição significam que embora seja Deus inefavelmente misterioso, e Ele não é opaco. É por meio de Jesus que somos capazes de falar com confiança sobre Deus e sua verdade divina.

11. Jesus fala de si mesmo como Filho do Pai, e juntamente com o Pai, envia Seu Espírito para estar com seu povo. É d’Ele que aprendemos que a natureza de Deus é uma eterna comunhão das três pessoas divinas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Por meio do batismo em sua Igreja, Jesus convida a todos a serem parte da aliança de Deus e da comunhão divina. A história de Israel, e, ulteriormente a da Igreja, é a história com significado universal, pois esta é uma convocação para vivermos como povo de Deus e participar da comunhão divina.

Jesus revela nossa identidade humana e nosso destino

12. Jesus revela quem é Deus, o Deus que nos ama e toma a iniciativa de nos alcançar. Contudo, Jesus também revela o que significa ser humano. O Concílio Vaticano II, ao se referir a Jesus como “Palavra” de Deus, ensina: “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente.” Em Jesus Cristo, aprendemos a verdade sobre nós mesmos, o que não poderíamos inventar e o que não conheceríamos de outro modo. Como afirma a Bíblia: “a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” (Col 3,3). Os católicos creem que Deus ama o mundo de forma muito intensa (cf. Jo 3,16), e, assim sendo, não nos deixa à deriva, ao contrário, Deus assume nossa carne para desvelar quem Ele é e quem nós somos. Esclarece-nos o Concílio Vaticano II: A razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus, por amor, é por Ele, por amor, constantemente conservado. Como o Papa Bento XVI enfatizou no último encontro mundial com as famílias, em Milão, em 2012, “O amor é o que faz da pessoa humana a autêntica imagem da Trindade, imagem de Deus.”

13. A expressão “imagem de Deus” provém do Livro do Gênesis (cf. Gn 1, 2627, 5,1 e 9,6). Esta afirmação sugere que cada pessoa singular é preciosa com dignidade única e irredutível. Apesar de ser possível abusar das pessoas ou usá-las, não se pode apagar esta verdade a respeito da forma como Deus nos criou. Nossa dignidade fundamental não está contingente aos fracassos ou conquistas. A bondade de Deus e o seu amor por nós é anterior e muito mais relevante do que qualquer pecado humano. A imagem de Deus permanece em nós, não importa o que façamos para obscurecê-la. Termos sido criados à imagem de Deus sugere que nossa verdadeira realização e alegria residem em conhecer, amar e servir uns aos outros, como Deus o faz.

14. Falar do homem e da mulher enquanto “imagem de Deus” significa que não podemos falar da humanidade sem referência a Deus. Se a natureza de Deus consiste na comunhão trinitária – Pai, Filho e Espírito Santo – e se fomos feitos a esta imagem, então nossa natureza deve ser interdependente. Para sermos uma pessoa, precisamos de comunhão. “Ser pessoa à imagem e semelhança de Deus comporta, pois, também um existir em relação, em referência ao outro ‘eu’.” Para que sejamos nós mesmos, precisamos uns dos outros e precisamos de Deus. Precisamos de alguém para amar e alguém que nos ame. Para sermos aquilo para o que fomos criados, devemos nos doar ao nosso próximo. “O ser pessoa […] não se pode alcançar ‘senão por um dom sincero de si mesmo’. Modelo de tal interpretação da pessoa é Deus mesmo como Trindade, como comunhão de Pessoas. Dizer que o homem é criado à imagem e semelhança deste Deus quer dizer também que o homem é chamado a existir ‘para’ os outros, a tornar-se um dom.” Para salvar nossas vidas precisamos perdê-las para Deus (cf. Mt 10,39; 16,25). Esta afirmativa teológica da pessoa humana se torna projeto de toda a teologia moral, incluindo o ensinamento católico sobre a família.

15. Podemos titubear com nossas fantasias e autossuficiência, contudo, fomos feitos à imagem de Deus – e se queremos viver como filhos e filhas de Deus, que de fato o somos, então precisamos acolher o chamado de Deus para amá-lo e para amar nosso próximo. Da mesma forma que Jesus revelou a natureza de Deus por meio de seu amor e sacrifício, também nós, de maneira mais profunda, aceitamos nossa real humanidade à medida que entramos em relações de amor e serviço aos nossos irmãos e irmãs e na adoração do Senhor.

16. Como o Vaticano II afirmou em sua reflexão sobre a dignidade humana, muitos ateus acreditam que “apenas a razão científica” pode nos fornecer tudo o que precisamos saber sobre nós mesmos, sem referência alguma a qualquer coisa para além do mundo natural. Contudo, os católicos sustentam que a teologia é essencial para a antropologia, isto é, acreditamos que uma compreensão de Deus e de seu propósito para a criação é vital para qualquer percepção dos seres humanos. Os católicos acreditam que a revelação divina em Jesus nos devolve a nós mesmos, revela quem somos e desvela-se, na amplitude do essencial, que a Deus pertencemos. Mas do que quaisquer medos, ambições ou questionamentos que tenhamos, é o amor de Deus o fundamento para a nossa identidade. Assim nos ensinou São João Paulo II logo ao início de seu pontificado: “O homem que quiser compreender-se a si mesmo profundamente — não apenas segundo imediatos, parciais, não raro superficiais e até mesmo só aparentes critérios e medidas do próprio ser – deve, com a sua inquietude, incerteza e também fraqueza e pecaminosidade, com a sua vida e com a sua morte, aproximar-se de Cristo.”

17. Jesus ao ensinar sobre o matrimônio refere-se ao plano e ao propósito de Deus na criação. Ao ser questionado pelos fariseus sobre uma questão a respeito do divórcio, em sua resposta ele lembra que Deus criou os seres humanos, homem e mulher, e marido e mulher se tornam uma só carne (cf. Mt 19, 312, Mc 10, 212). De forma similar, quando o Apóstolo Paulo escreve aos coríntios sobre a ética sexual, ele os faz lembrar daquela união de uma só carne entre o homem e a mulher na Criação (cf. 1Cor 6, 16). Quando escreve aos Efésios (cf. Ef 5, 32) sobre o tema do matrimônio, novamente ele lhes diz que isto é um “profundo mistério”, o qual se refere a Cristo e à Igreja. Ao escrever à Igreja de Roma, discorre sobre a natureza e a vontade de Deus revelada na Criação; fala ainda sobre os muitos pecados – incluindo o de natureza sexual – que se manifestam a partir de nosso afastamento do conhecimento do Criador (Rm 1, 1832).

O amor é a missão da família

18. A este ponto já deveria estar claro por que “O amor é a nossa Missão” é o tema do Encontro Mundial das Famílias. Um dos documentos papais mais importantes do século XXI – Familiaris consórtio, de São João Paulo II – sintetizou como o ensinamento católico sobre as naturezas, humana e divina, moldam as bases sobre as quais deveríamos viver: Deus criou o homem à sua imagem e semelhança: chamando-o à existência por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor. Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano. O amor de Deus nunca cessa de nos convocar. Não podemos desperdiçar este convite. Fomos criados à imagem de Deus e, apesar da realidade do pecado humano, a vocação implícita à nossa criação é indelével.

19. A visão católica sobre o matrimônio, família e sexualidade pertencem a uma missão mais ampla, a fim de se viver de um modo que torne o amor de Deus visível e radiante. O vivenciar desta missão torna o nosso dia-a-dia mais vivo com a alegria de Deus. A pessoa humana como um todo – corpo e alma, nossa masculinidade e feminilidade e tudo aquilo que disso deriva – está implicada no convite de Deus. O subtema deste Encontro Mundial das Famílias é “a família plenamente viva”, e isso por uma boa razão. A família encontra-se mais plenamente viva quando abarca o convite divino para sermos os filhos e filhas, vocação à qual fomos criados.

20. Nossa época encontra-se confusa e incerta. Jesus Cristo é uma âncora de total confiança. A dignidade humana jaz de forma segura em Jesus, o Deus que se fez homem. Jesus revela quem é Deus e quem somos nós. Em Jesus encontramos um Deus que nos alcança, que cria comunhão e nos convida a partilhar de sua alegria. Fomos feitos à imagem de Deus e chamados à comunhão com Ele e uns com os outros. Este amor oferece propósito e molda todos os aspetos da vida humana, incluindo a família.

Questões para partilha

  • O que há em Jesus que o torna totalmente confiável?
  • Que coisas em sua vida o distraem de Jesus? O que o ajudaria a tornar-se mais familiar ou até mesmo íntimo dele?
  • O que a afirmação “criados à imagem de Deus” significa? É possível compreender a identidade humana sem Deus? Por que sim ou por que não?
  • O tema desta catequese é “O amor é a nossa missão”. O que significa “amor” em sua vida? O quanto a missão de amar afeta suas escolhas, prioridades e ambições?
  • I. Criados para a alegria   | Imprimir | Email


Encontro de Casais com Cristo_ECC Semana_da_Familia
Estatuto_destruição_da_Familia Familia_projeto_de_Deus Espiritualidade_Cristã_familia

Escolher a Vida – SNF – 2015.


– X tema da Semana Nacional da Família – 2015.



Escolher_a_vida



ESCOLHER A VIDA

Deus nos fez com um propósito. Seu amor é a nossa missão. Esta missão nos capacita a encontrarmos nossa verdadeira identidade. Se escolhermos abraçar esta missão, teremos uma nova perspectiva em relação a muitas questões, não somente em relação à família. Viver a missão da igreja doméstica significa que as famílias católicas, por vezes, viverão como minorias, com valores distintos daqueles da cultura à sua volta. Nossa missão de amor nos exigirá coragem e fortaleza. Jesus nos chama, e podemos dar a resposta optando pela vida de fé, esperança, amor, alegria, serviço e missão.

Nossa missão para a totalidade da vida

  1. Começamos esta catequese explicando que Deus nos fez por um motivo. O Deus que encontramos em Jesus Cristo nos ama e nos chama a amar como Ele. Se compreendermos que o amor é nossa missão nos matrimônios, nas famílias, junto às crianças e nas paróquias, então aprenderemos uma verdade básica que moldará muitas outras áreas da vida.
  2. Por exemplo, se a fidelidade para aqueles que fazem parte da aliança implica limitações, se nossos corpos e o mundo material podem ser receptáculos da graça divina, então podemos abordar as questões de ecologia, tecnologia e medicina com renovada humildade. Da mesma maneira, se seguimos o compromisso de Deus a uma aliança de amor mais forte que o sofrimento, então temos novos motivos para ser solidários com o próximo que está aflito ou magoado. Caso entendamos que ser à imagem de Deus, e, portanto, ter a dignidade humana, possui raízes mais profundas que qualquer habilidade ou feito humano contingente, então, compreenderemos por que a Igreja tem tanto amor pelos mais jovens, pelos idosos, pelos inválidos e por todos aqueles que dependem de outrem para os cuidados básicos.
  3. Agora percebemos por que a catequese sobre a família é, na verdade, uma catequese para toda a vida. Como diz o papa Francisco, “O anúncio do Evangelho, passa de fato, antes de tudo, através das famílias para depois, chegar até aos diversos âmbitos da vida diária.”(171) Se aprendermos a pensar nossas famílias como igrejas domésticas, se aprendermos por que o individualismo moral não é o contexto correto para experimentar o ensinamento católico, então adotamos uma visão que reorientará toda a nossa identidade.

Viver como minoria criativa

  1. As perspectivas católicas a respeito do sentido da vida e como viver bem não persuadirão todos na nossa época. A era da “cristandade”, quando o Ocidente podia pressupor, ao menos em linhas gerais, algum tipo de congruência entre os valores públicos e os valores católicos está desaparecendo. Os católicos ocidentais pós-cristandade estão aprendendo a viver como cristãos em muitas outras partes do mundo, lugares como a África e a Ásia, onde cristãos nunca foram a maioria.
  2. A condição de minoria em uma cultura não significa uma posição marginal ou irrelevante. O Catecismo da Igreja Católica, ao instruir sobre nossa vocação de participação na sociedade, cita uma carta cristã, escrita em uma época em que a Igreja estava longe de ter prestígio social ou estabilidade. A tentação de desistir deve ter sido real, mas diz a carta: “Não vivais isolados, fechados em vós mesmos, como se já estivésseis justificados; mas reuni-vos para procurar em conjunto o que é de interesse comum.”(172) Esse olhar voltado ao mundo exterior, esse espírito orientado ao serviço, na verdade, tem origem ainda mais antiga. Disse o profeta Jeremias aos judeus exilados na Babilônia, muito embora os babilônios tenham saqueado Jerusalém e feito os judeus prisioneiros: “Empenhai-vos pelo bem-estar da cidade para onde vos exilei, orai a Deus por ela, pois a felicidade desse lugar será vossa felicidade” (Jr 29, 7).
  3. Viver no exílio como uma minoria criativa, fiel, requer disciplina espiritual. No Livro de Daniel, ele e seus amigos judeus são capazes de servir na corte do rei babilônico Nabucodonosor. É surpreendente que os judeus tenham chegado ao ponto de servir a um rei pagão, mas foram úteis ao rei exatamente na medida em que permaneceram fiéis judeus.
  4. A razão pela qual tinham a sabedoria que os adivinhos do rei não possuíam é que conformaram a vida à fé no Deus uno e verdadeiro. Faziam suas preces (173) mantinham as principais prescrições judaicas (tais como restrições alimentares 174). Foram fermentos em um palácio pagão porque sabiam quem eram. Sabiam como se portar em um determinado mundo social, mas não fazer parte dele. E sabiam quando não transigir – sabiam que a identidade religiosa muitas vezes teria de pagar um preço alto – mas, aceitaram a cova dos leões e a fornalha acesa em vez de trair seu Deus e adorar ídolos.
  5. Católicos, portanto, têm estratégias e precedentes para viver a fé em um mundo que não compreende suas crenças ou não concorda com elas. Se nosso modo de vida é diferente do modo de viver do mundo, no entanto, temos uma esperança firme e uma razão clara de que há “um desígnio maior que os próprios projetos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada.”(175) Temos um princípio firme para tornarmo-nos independentes das forças destrutivas na sociedade e na cultura, e esse mesmo princípio nos orienta para o amor e a participação na sociedade e na cultura. O amor que “move sol e estrelas”,(176) o amor que cria e sustenta tudo, que é o mesmo amor que anima nossos matrimônios, famílias, lares e Igreja. Podemos estar certos de que se seguirmos esse amor até aos pés da cruz, nossos sofrimentos, na verdade, nos tornam mais verdadeiros, mais autenticamente humanos e que a ressurreição e a justiça estão vindo porque seguimos um senhor fidedigno. Esse amor nos dará força para viver claramente como sal da terra. (177)

Somos todos missionários

  1. São João Paulo II exortou “família, torna-te aquilo que és”,(178) e suas palavras não perderam a força, a urgência só foi intensificada em face dos muitos desafios que as famílias experimentam hoje. A percepção de João Paulo II era de que a missão da família colhe sua identidade no plano de Deus. “E porque, segundo o plano de Deus, é constituída qual ‘íntima comunidade de vida e de amor’, (179) a família tem a missão de se tornar cada vez mais aquilo que é, ou seja, comunidade de vida e de amor, numa tensão que, […] encontrará a plenitude no Reino de Deus.” (180) Nas palavras de João Paulo II, a missão fundamental da família é, portanto, “guardar, revelar e comunicar o amor”, uma missão que é “reflexo vivo e participação real do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo pela Igreja, sua esposa”. (181) Quando a família abraça essa identidade missionária, torna-se aquilo para o qual sempre se pretendeu que fosse.
  2. Essa missão não está reservada para poucas e extraordinárias pessoas. Nem isso quer dizer que as famílias, de alguma maneira, têm de deixar de ser como são e buscar uma espécie de perfeição impossível para testemunhar o Evangelho. A família cristã é chamada a aprofundar, refletir e testemunhar o amor e a vida que já estão na base de ser uma família.
  3. A família é uma comunhão de amor, fundada no dom de si na comunhão carnal entre as pessoas do marido e da mulher. É essa comunhão indissolúvel de marido e mulher que cria condições para a família, como uma verdadeira comunidade de pessoas. (182) É na família que o amor é aprendido como dom de si, um dom recebido primeiramente do pai e da mãe e, depois, retribuído e partilhado com os outros. A família é o local onde o valor da comunidade é aprendido, formando o alicerce para a comunhão na sociedade. Dessa maneira, matrimônios e famílias, que se esforçam para amar em unidade e fidelidade, dão um testemunho vital em seus lares, bairros, paróquias e comunidades locais, onde quer que vão, seja no serviço, no trabalho ou no lazer.

A igreja doméstica se realizará na missão da Igreja universal

  1. A Igreja nunca esteve longe do lar da família. O próprio Cristo nasceu, cresceu e formou-se no “seio da Sagrada Família de José e de Maria”.183 Maria, como virgem e mãe, recapitula de maneira bela e singular tanto a vocação do celibato quanto a da maternidade.184 Na vida de união, a Sagrada Família de Nazaré é um exemplo e intercede por todas as famílias. Durante o próprio ministério público, Jesus muitas vezes visitava ou pernoitava em casas de família, em especial, na família de São Pedro, em Cafarnaum. (185) Nas saudações, São Paulo também manifestava apreço por determinados discípulos, em especial o casal Priscila e Áquila e “a Igreja que se reúne na casa deles”. (186)

Como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: Desde as suas origens, o núcleo aglutinante da Igreja era, muitas vezes, constituído por aqueles que, “com toda a sua casa, se tinham tornado crentes”. Quando se convertiam, desejavam que também “toda a sua casa” fosse salva. Estas famílias, que passaram a ser crentes, eram pequenas ilhas de vida cristã no meio dum mundo descrente. (187)

  1. Falar da família como uma igreja doméstica significa que aquilo que é dito da própria Igreja pode ser, analogamente, dito da família cristã, e que a família cristã, portanto, possui um papel-chave na Igreja e no mundo. O papa João Paulo II falou do “papel eclesial específico e original” da família cristã: “A família cristã é chamada a tomar parte viva e responsável na missão da Igreja de modo próprio e original, colocando-se a serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto comunidade íntima de vida e de amor.” (188)

O AMOR É A NOSSA MISSÃO

  1. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica descreve o sacramento do Matrimônio, juntamente com o sacramento da Ordem, como “ao serviço da comunhão e da missão”. (189) O matrimônio e a família servem e constroem a comunhão da Igreja e contribuem para desenvolver sua missão de proclamar o Evangelho e amar como Cristo amou. Às vezes há uma tendência a pensar somente em como a Igreja (e como uma determinada diocese e paróquia) serve ao matrimônio e à família. Certamente, essa é uma parcela vital do alcance pastoral da Igreja.
  2. Tão importante, e talvez mais urgente, é pensar no modo como as famílias cristãs amam e servem a paróquia, a diocese, a Igreja universal e o mundo. O clero tem como objetivo assistir as famílias e deve ajudá-las, por sua vez, a se tornarem missionárias. Isso é, em certo sentido, uma mudança de paradigma que aguarda pleno florescimento na Igreja: liberar a família cristã para o trabalho de propagação do Evangelho. Na raiz disso não está nada mais que a redescoberta da vocação do matrimônio como vocação para tornar-se uma igreja doméstica.
  3. A igreja doméstica não é um conceito abstrato. É uma realidade, uma vocação e uma missão, fundamentada no sacramento do Matrimônio e vivida por muitos. Cristo ainda nos chama: famílias cristãs, a Igreja precisa de vós; o mundo precisa de vós.
  4. “Família, torna-te aquilo que és.” (190) Portanto, escolham a vida que vocês e seus descendentes deverão viver, amando o Senhor, seu Deus, obedecendo a sua voz, apegando-se a Ele.191 Essa missão, às vezes, os marcará como diferentes dos outros na sociedade. Viver seu testemunho de amor irá requerer compromisso e disciplina, mas não temam. A Igreja está com vocês. O Senhor está com vocês. O Senhor fez uma aliança com vocês. O Senhor os chama. Ele é fiel, e sua aliança produzirá frutos. O amor é sua missão, o fundamento de toda a comunhão, uma aventura profunda no serviço, na beleza e na verdade.

QUESTÕES PARA PARTILHA

a) De que maneira a catequese na família é, na verdade, uma catequese para toda a vida? De que maneira os ensinamentos católicos sobre a natureza humana, o sexo, o casamento e a família correlacionam-se com outros aspectos da vida?

b) Os valores e costumes de nossa comunidade tornam mais fácil ou mais difícil ser católico? Na nossa cultura, você é livre para ser católico ou existe alguma pressão que compromete a fé? Como participar de sua cultura e permanecer fiel?

c) Sua família se vê como uma igreja doméstica? Que valores são visíveis no modo que vocês vivem a vida doméstica? Que passos podem dar para tornarem-se missionários melhores?

d) Que tipo de apoio sua família precisa receber da Igreja? Como a Igreja pode ajudar vocês? Como vocês podem ajudar a Igreja e as outras famílias?


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