Escolher a Vida – SNF – 2015.


– X tema da Semana Nacional da Família – 2015.



Escolher_a_vida



ESCOLHER A VIDA

Deus nos fez com um propósito. Seu amor é a nossa missão. Esta missão nos capacita a encontrarmos nossa verdadeira identidade. Se escolhermos abraçar esta missão, teremos uma nova perspectiva em relação a muitas questões, não somente em relação à família. Viver a missão da igreja doméstica significa que as famílias católicas, por vezes, viverão como minorias, com valores distintos daqueles da cultura à sua volta. Nossa missão de amor nos exigirá coragem e fortaleza. Jesus nos chama, e podemos dar a resposta optando pela vida de fé, esperança, amor, alegria, serviço e missão.

Nossa missão para a totalidade da vida

  1. Começamos esta catequese explicando que Deus nos fez por um motivo. O Deus que encontramos em Jesus Cristo nos ama e nos chama a amar como Ele. Se compreendermos que o amor é nossa missão nos matrimônios, nas famílias, junto às crianças e nas paróquias, então aprenderemos uma verdade básica que moldará muitas outras áreas da vida.
  2. Por exemplo, se a fidelidade para aqueles que fazem parte da aliança implica limitações, se nossos corpos e o mundo material podem ser receptáculos da graça divina, então podemos abordar as questões de ecologia, tecnologia e medicina com renovada humildade. Da mesma maneira, se seguimos o compromisso de Deus a uma aliança de amor mais forte que o sofrimento, então temos novos motivos para ser solidários com o próximo que está aflito ou magoado. Caso entendamos que ser à imagem de Deus, e, portanto, ter a dignidade humana, possui raízes mais profundas que qualquer habilidade ou feito humano contingente, então, compreenderemos por que a Igreja tem tanto amor pelos mais jovens, pelos idosos, pelos inválidos e por todos aqueles que dependem de outrem para os cuidados básicos.
  3. Agora percebemos por que a catequese sobre a família é, na verdade, uma catequese para toda a vida. Como diz o papa Francisco, “O anúncio do Evangelho, passa de fato, antes de tudo, através das famílias para depois, chegar até aos diversos âmbitos da vida diária.”(171) Se aprendermos a pensar nossas famílias como igrejas domésticas, se aprendermos por que o individualismo moral não é o contexto correto para experimentar o ensinamento católico, então adotamos uma visão que reorientará toda a nossa identidade.

Viver como minoria criativa

  1. As perspectivas católicas a respeito do sentido da vida e como viver bem não persuadirão todos na nossa época. A era da “cristandade”, quando o Ocidente podia pressupor, ao menos em linhas gerais, algum tipo de congruência entre os valores públicos e os valores católicos está desaparecendo. Os católicos ocidentais pós-cristandade estão aprendendo a viver como cristãos em muitas outras partes do mundo, lugares como a África e a Ásia, onde cristãos nunca foram a maioria.
  2. A condição de minoria em uma cultura não significa uma posição marginal ou irrelevante. O Catecismo da Igreja Católica, ao instruir sobre nossa vocação de participação na sociedade, cita uma carta cristã, escrita em uma época em que a Igreja estava longe de ter prestígio social ou estabilidade. A tentação de desistir deve ter sido real, mas diz a carta: “Não vivais isolados, fechados em vós mesmos, como se já estivésseis justificados; mas reuni-vos para procurar em conjunto o que é de interesse comum.”(172) Esse olhar voltado ao mundo exterior, esse espírito orientado ao serviço, na verdade, tem origem ainda mais antiga. Disse o profeta Jeremias aos judeus exilados na Babilônia, muito embora os babilônios tenham saqueado Jerusalém e feito os judeus prisioneiros: “Empenhai-vos pelo bem-estar da cidade para onde vos exilei, orai a Deus por ela, pois a felicidade desse lugar será vossa felicidade” (Jr 29, 7).
  3. Viver no exílio como uma minoria criativa, fiel, requer disciplina espiritual. No Livro de Daniel, ele e seus amigos judeus são capazes de servir na corte do rei babilônico Nabucodonosor. É surpreendente que os judeus tenham chegado ao ponto de servir a um rei pagão, mas foram úteis ao rei exatamente na medida em que permaneceram fiéis judeus.
  4. A razão pela qual tinham a sabedoria que os adivinhos do rei não possuíam é que conformaram a vida à fé no Deus uno e verdadeiro. Faziam suas preces (173) mantinham as principais prescrições judaicas (tais como restrições alimentares 174). Foram fermentos em um palácio pagão porque sabiam quem eram. Sabiam como se portar em um determinado mundo social, mas não fazer parte dele. E sabiam quando não transigir – sabiam que a identidade religiosa muitas vezes teria de pagar um preço alto – mas, aceitaram a cova dos leões e a fornalha acesa em vez de trair seu Deus e adorar ídolos.
  5. Católicos, portanto, têm estratégias e precedentes para viver a fé em um mundo que não compreende suas crenças ou não concorda com elas. Se nosso modo de vida é diferente do modo de viver do mundo, no entanto, temos uma esperança firme e uma razão clara de que há “um desígnio maior que os próprios projetos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada.”(175) Temos um princípio firme para tornarmo-nos independentes das forças destrutivas na sociedade e na cultura, e esse mesmo princípio nos orienta para o amor e a participação na sociedade e na cultura. O amor que “move sol e estrelas”,(176) o amor que cria e sustenta tudo, que é o mesmo amor que anima nossos matrimônios, famílias, lares e Igreja. Podemos estar certos de que se seguirmos esse amor até aos pés da cruz, nossos sofrimentos, na verdade, nos tornam mais verdadeiros, mais autenticamente humanos e que a ressurreição e a justiça estão vindo porque seguimos um senhor fidedigno. Esse amor nos dará força para viver claramente como sal da terra. (177)

Somos todos missionários

  1. São João Paulo II exortou “família, torna-te aquilo que és”,(178) e suas palavras não perderam a força, a urgência só foi intensificada em face dos muitos desafios que as famílias experimentam hoje. A percepção de João Paulo II era de que a missão da família colhe sua identidade no plano de Deus. “E porque, segundo o plano de Deus, é constituída qual ‘íntima comunidade de vida e de amor’, (179) a família tem a missão de se tornar cada vez mais aquilo que é, ou seja, comunidade de vida e de amor, numa tensão que, […] encontrará a plenitude no Reino de Deus.” (180) Nas palavras de João Paulo II, a missão fundamental da família é, portanto, “guardar, revelar e comunicar o amor”, uma missão que é “reflexo vivo e participação real do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo pela Igreja, sua esposa”. (181) Quando a família abraça essa identidade missionária, torna-se aquilo para o qual sempre se pretendeu que fosse.
  2. Essa missão não está reservada para poucas e extraordinárias pessoas. Nem isso quer dizer que as famílias, de alguma maneira, têm de deixar de ser como são e buscar uma espécie de perfeição impossível para testemunhar o Evangelho. A família cristã é chamada a aprofundar, refletir e testemunhar o amor e a vida que já estão na base de ser uma família.
  3. A família é uma comunhão de amor, fundada no dom de si na comunhão carnal entre as pessoas do marido e da mulher. É essa comunhão indissolúvel de marido e mulher que cria condições para a família, como uma verdadeira comunidade de pessoas. (182) É na família que o amor é aprendido como dom de si, um dom recebido primeiramente do pai e da mãe e, depois, retribuído e partilhado com os outros. A família é o local onde o valor da comunidade é aprendido, formando o alicerce para a comunhão na sociedade. Dessa maneira, matrimônios e famílias, que se esforçam para amar em unidade e fidelidade, dão um testemunho vital em seus lares, bairros, paróquias e comunidades locais, onde quer que vão, seja no serviço, no trabalho ou no lazer.

A igreja doméstica se realizará na missão da Igreja universal

  1. A Igreja nunca esteve longe do lar da família. O próprio Cristo nasceu, cresceu e formou-se no “seio da Sagrada Família de José e de Maria”.183 Maria, como virgem e mãe, recapitula de maneira bela e singular tanto a vocação do celibato quanto a da maternidade.184 Na vida de união, a Sagrada Família de Nazaré é um exemplo e intercede por todas as famílias. Durante o próprio ministério público, Jesus muitas vezes visitava ou pernoitava em casas de família, em especial, na família de São Pedro, em Cafarnaum. (185) Nas saudações, São Paulo também manifestava apreço por determinados discípulos, em especial o casal Priscila e Áquila e “a Igreja que se reúne na casa deles”. (186)

Como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: Desde as suas origens, o núcleo aglutinante da Igreja era, muitas vezes, constituído por aqueles que, “com toda a sua casa, se tinham tornado crentes”. Quando se convertiam, desejavam que também “toda a sua casa” fosse salva. Estas famílias, que passaram a ser crentes, eram pequenas ilhas de vida cristã no meio dum mundo descrente. (187)

  1. Falar da família como uma igreja doméstica significa que aquilo que é dito da própria Igreja pode ser, analogamente, dito da família cristã, e que a família cristã, portanto, possui um papel-chave na Igreja e no mundo. O papa João Paulo II falou do “papel eclesial específico e original” da família cristã: “A família cristã é chamada a tomar parte viva e responsável na missão da Igreja de modo próprio e original, colocando-se a serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto comunidade íntima de vida e de amor.” (188)

O AMOR É A NOSSA MISSÃO

  1. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica descreve o sacramento do Matrimônio, juntamente com o sacramento da Ordem, como “ao serviço da comunhão e da missão”. (189) O matrimônio e a família servem e constroem a comunhão da Igreja e contribuem para desenvolver sua missão de proclamar o Evangelho e amar como Cristo amou. Às vezes há uma tendência a pensar somente em como a Igreja (e como uma determinada diocese e paróquia) serve ao matrimônio e à família. Certamente, essa é uma parcela vital do alcance pastoral da Igreja.
  2. Tão importante, e talvez mais urgente, é pensar no modo como as famílias cristãs amam e servem a paróquia, a diocese, a Igreja universal e o mundo. O clero tem como objetivo assistir as famílias e deve ajudá-las, por sua vez, a se tornarem missionárias. Isso é, em certo sentido, uma mudança de paradigma que aguarda pleno florescimento na Igreja: liberar a família cristã para o trabalho de propagação do Evangelho. Na raiz disso não está nada mais que a redescoberta da vocação do matrimônio como vocação para tornar-se uma igreja doméstica.
  3. A igreja doméstica não é um conceito abstrato. É uma realidade, uma vocação e uma missão, fundamentada no sacramento do Matrimônio e vivida por muitos. Cristo ainda nos chama: famílias cristãs, a Igreja precisa de vós; o mundo precisa de vós.
  4. “Família, torna-te aquilo que és.” (190) Portanto, escolham a vida que vocês e seus descendentes deverão viver, amando o Senhor, seu Deus, obedecendo a sua voz, apegando-se a Ele.191 Essa missão, às vezes, os marcará como diferentes dos outros na sociedade. Viver seu testemunho de amor irá requerer compromisso e disciplina, mas não temam. A Igreja está com vocês. O Senhor está com vocês. O Senhor fez uma aliança com vocês. O Senhor os chama. Ele é fiel, e sua aliança produzirá frutos. O amor é sua missão, o fundamento de toda a comunhão, uma aventura profunda no serviço, na beleza e na verdade.

QUESTÕES PARA PARTILHA

a) De que maneira a catequese na família é, na verdade, uma catequese para toda a vida? De que maneira os ensinamentos católicos sobre a natureza humana, o sexo, o casamento e a família correlacionam-se com outros aspectos da vida?

b) Os valores e costumes de nossa comunidade tornam mais fácil ou mais difícil ser católico? Na nossa cultura, você é livre para ser católico ou existe alguma pressão que compromete a fé? Como participar de sua cultura e permanecer fiel?

c) Sua família se vê como uma igreja doméstica? Que valores são visíveis no modo que vocês vivem a vida doméstica? Que passos podem dar para tornarem-se missionários melhores?

d) Que tipo de apoio sua família precisa receber da Igreja? Como a Igreja pode ajudar vocês? Como vocês podem ajudar a Igreja e as outras famílias?


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