ROMA – Publicamos o comentário que o padre Raniero Cantalamessa OFM Cap – pregador da Casa Pontifícia – preparou sobre Francisco e Clara, a propósito da emissão, na televisão pública italiana, de uma minissérie sobre os dois grandes santos de Assis.
É comum falar da amizade entre Clara e Francisco em termos de amor humano. Em seu conhecido ensaio sobre apaixonar-se e amar, Francisco Alberoni escreve que “a relação entre Santa Clara e São Francisco tem todas as características de um enamoramento transferido (ou sublimado) à divindade”. “Francisco e Clara”, de Fabrizio Costa, a série televisiva transmitida pela Rai Uno, melhor talvez que “Irmão Sol e Irmã Lua”, de Zeffirelli, soube evitar esta alusão ao romântico, sem tirar nada da beleza também humana de um encontro assim.
Foto: Painel do Altar da Igreja São Francisco em Anápolis-Goiás
Como qualquer homem, ainda que seja santo, Francisco pode ter experimentado a atração pela mulher e o sexo. As fontes referem que para vencer uma tentação deste tipo, uma vez, o santo se jogou em pleno inverno na neve. Mas não se tratava de Clara! Quando entre um homem e uma mulher há união em Deus, se é autêntica, exclui toda atração de tipo erótico, sem que exista sequer luta. É como refugiar-se. É outro tipo de relação. Entre Clara e Francisco havia certamente um fortíssimo vínculo também humano, mas de tipo paterno e filial, não esponsal. Francisco chamava Clara de sua “plantinha”, e Clara chamava Francisco de “nosso pai”.
O entendimento extraordinariamente profundo entre Francisco e Clara que caracteriza a epopéia franciscana não vem “da carne e do sangue”. Não é, por exemplo, igualmente célebre, como aquele entre Heloísa e Abelardo. Se assim tivesse sido, teria deixado talvez uma marca na literatura, mas não na história da santidade. Com uma conhecida expressão de Goethe, poderíamos chamar a de Francisco e Clara uma “afinidade eletiva”, com a condição de entender “eletiva” não só no sentido de pessoas que se elegeram reciprocamente, mas no sentido de pessoas que realizaram a mesma eleição.
Antoine de Saint-Exupéry escreveu que “Amar não quer dizer olhar um ao outro, mas olhar juntos na mesma direção“. Clara e Francisco na verdade não passaram a vida olhando um ao outro, estando bem juntos.
Trocaram pouquíssimas palavras, quase só as referidas nas fontes. Havia uma estupenda discrição entre eles, tanta que o santo, às vezes, era amavelmente reprovado por seus irmãos por ser demasiado duro com Clara.
Só ao final da vida vemos atenuar este rigor nas relações e Francisco buscar cada vez com maior freqüência consolo e confirmação junto a sua “Plantinha”. É em São Damião onde se refugia próximo à morte, devorado por enfermidades, e está perto dela quando entoa o canto de Irmão Sol e Irmã Lua, com aquele elogio de “Irmã Água, útil e humilde e preciosa e casta”, que parece ter escrito pensando em Clara.
Em lugar de olhar um ao outro, Clara e Francisco olharam na mesma direção. E se sabe qual foi para eles esta “direção”. Clara e Francisco eram como olhos que olham sempre na mesma direção. Dois olhares que contemplam o objeto de ângulos diversos dão profundidade, relevância ao objeto, permitem “envolvê-lo” com o olhar. Assim foi para Clara e Francisco. Contemplaram o mesmo Deus, o mesmo Senhor Jesus, o mesmo Crucificado, a mesma Eucaristia, mas de “ângulos” diferentes, com dons e sensibilidade próprios: os masculinos e os femininos. Juntos perceberam mais do que teriam podido fazer dois Franciscos e duas Claras.
Se existe uma lacuna na série sobre Francisco e Clara é talvez a insuficiente relevância prestada à oração, e com ela à dimensão sobrenatural de suas vidas. Uma lacuna provavelmente inevitável quando a vida dos santos se leva à tela. A oração é silêncio, quietude, solidão, enquanto que a palavra “cinema” vem do grego kinema, que significa movimento! A exceção é o filme “O grande silêncio” sobre a vida dos cartuchos, mas não resistiria na pequena tela.
No passado se tendia a apresentar a personalidade de Clara demasiado subordinada à de Francisco, precisamente como a “irmã Lua” que vive do reflexo da luz do “irmão Sol”. O exemplo neste sentido é o livro publicado no verão passado sobre “A amizade entre Francisco e Clara” (John M. Sweeney, the Friendship of Francis and Clare of Assisi, Paraclete Press 2007).
Tanto mais é de elogiar, na série televisiva, a eleição de apresentar Francisco e Clara como duas vidas paralelas, que se entrecruzam e se desenvolvem em sincronia, com igual espaço dado a um e outro. É a primeira vez que ocorre desta forma. Isso responde à sensibilidade atual orientada a evidenciar a importância da presença feminina na história, mas em nosso caso corresponde à realidade e não é algo forçado.
A cena que mais me impactou ao ver a pré-estréia de “Francisco e Clara” é a inicial, emblemática, uma espécie de chave de leitura de toda a história. Francisco caminha em um prado, Clara o segue introduzindo seus pés, quase brincando, nas pegadas que Francisco deixa, e, diante da pergunta dele: “Estás seguindo minhas pegadas?”, responde luminosa: “Não, outras muito mais profundas”.
“ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS’
Fonte: www.zenit.org
OUTROS TEXTOS
Frei Raniero Cantalamessa (7)
Francisco e Clara – Dois enamorados, mas de quem?
FRANCISCO |
FAMÍLIA |
ABORTO |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
Filed under: 5584, Agenda, Amor de Deus, Apresentação, Fidelidade à Liturgia de Sempre?, Filme, Fora da Igreja não há Salvação, Frei Raniero Cantalamessa, Historia, Igreja Missionária, Jesus, Jesus Cura, Livro Católico, Mais Católico do que o Papa., Mensagens, Milagres, Parábolas e Reflexões, Presente prá você, Santos Católicos, Vocação | Tagged: Amor, Antoine de Saint-Exupéry, Assis, Associação Servos de Deus, Casamento, Cinema, Dia dos Namorados, Filme, Franciscanos, Frei Raniero Cantalamessa, Igreja Católica, Irmão Sol e Irmã Lua, Matrimônio, Namorados, Namoro, Pe. raniero Cantalamessa, Pequeno Principe, Santa Clara, Santos, Santos Católicos, santos da Igreja, São Francisco, Séries Premiadas, Vocação, Vocações |
[…] FRANCISCO E CLARA, Olhavam na mesma direção. « Enchei-vos do Espírito Santo de Deus …, em 09/06/2011 às 17:22 disse: […]
CurtirCurtir
o amor simples e purro como o de clara e francisco nos revela a grandeza de deus parra com seus filho
CurtirCurtir
[…] dia de São Jo… on Pentecostes a Festa do Espírit…Hoje é dia de São Jo… on FRANCISCO E CLARA, Olhavam na …FRANCISCO E CLARA, O… on Oração de São Francisco de…lurgeordill on XXIII Festival […]
CurtirCurtir
[…] FRANCISCO E CLARA, O… on Oração de São Francisco de…teresa cristina on Perpétuo Socorro.laura penha on […]
CurtirCurtir
[…] FRANCISCO E CLARA, Olhavam na mesma direção. […]
CurtirCurtir
PARABENS PELAS BELISSIMAS MENSAGENS CRISTÃS COM VISÃO FRANCISCANA, SOU DA FRATERNIDADE OFS DE IRATI PR E PERTENÇO A OFS PR SUL I -PAZ E BEM ! SIMPLESMENTE FRATERNIDADE.
CurtirCurtir
[…] uma Mãe Com Coração…Mãezinha querida. … on Mensagens para dia das Mã…FRANCISCO E CLARA, O… on Corpus Cristhi – Eu sou …FRANCISCO E CLARA, O… on […]
CurtirCurtir
Deus é fiel eu o amo e ele me ama.
CurtirCurtir
FRANCISCO E CLARA, UMA HITÓRIA LINDA DE AMOR MOSTRA Á GRANDESA QUE E A NOSSA FÉ CÁTÓLICA.TE AMO MEU SENHOR POR MOSTRAR GRANDES REVELAÇÕES…
CurtirCurtir